A bacia sedimentar do Paraná, localizada nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, apresenta potencial para a exploração de gás natural não-convencional (shale gas), aponta pesquisa do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. O trabalho da pesquisadora Haline Rocha sugere o aproveitamento do gás na geração de energia em usinas termelétricas da região, como a de Uruguaiana (Rio Grande do Sul), com maior eficiência energética e menor emissão de poluentes. No entanto, o estudo ressalta que a exploração do gás deve utilizar tecnologias que não causem danos ao Aquífero Guarani, reserva de água existente no local.
Haline aponta que o termo “shale gas” pode ser traduzido como “gás em folhelho”. Ele se refere a depósitos de gás natural em formações rochosas ricas em matéria orgânica, chamadas de folhelhos negros. “Folhelhos geralmente se caracterizam por sua baixa permeabilidade, fato que dificulta a produção direta de petróleo ou gás. Por serem considerados fonte não comercial, ou não econômica, de hidrocarbonetos, eram denominados fonte ‘não-convencional’”, afirma. “No entanto, uma vez implantadas técnicas exploratórias adequadas, se torna possível a produção de hidrocarbonetos a partir dessas rochas, que podem vir a gerar volumes expressivos de óleo ou gás natural à custos relativamente baixos”.
Uma vez implantadas técnicas exploratórias adequadas, se torna possível a produção de hidrocarbonetos a partir dessas rochas, que podem vir a gerar volumes expressivos de óleo ou gás natural à custos relativamente baixos.
Para a avaliação do potencial da bacia sedimentar do Paraná, foram analisados parâmetros geológicos, geoquímicos e petrofísicos das rochas com a finalidade de se identificar a compatibilidade destes com os fatores essenciais à geração de shale gas. “Esses parâmetros incluem teor de matéria orgânica, maturação das rochas, além de aspectos como área de ocorrência, espessura e profundidade em que se encontram as rochas”, diz a pesquisadora. “Os parâmetros foram analisados com base em campos comprovadamente produtores de shale gas nos Estados Unidos, principal produtor mundial.
De acordo com Haline, a viabilização do uso do shale gas depende, principalmente, da viabilidade técnica, ou seja, a ocorrência do recurso em quantidades suficientes e acessíveis, e econômica dessa exploração, considerar custos de implantação de poços e da aplicação das técnicas exploratórias necessárias. “Segundo esses aspectos técnico-econômicos a exploração de shale gas na região se apresenta bastante promissora”, destaca.
O gás extraído seria destinado à geração de eletricidade em usinas térmicas, que é a principal demanda por gás natural no Brasil, ao lado da indústria petroquímica. “As usinas vem sendo acionadas em caráter emergencial como compensação à crise hídrica nacional, como o caso da usina térmica de Uruguaiana”, observa Haline. “O gás natural na geração termelétrica apresenta vantagens em termos de eficiência energética e, na comparação com outros combustíveis fósseis, como óleo combustível e carvão mineral, ser menos poluente, auxiliando na redução de emissões de gases contribuintes ao efeito estufa (GEE)”.
O gás natural na geração termelétrica apresenta vantagens em termos de eficiência energética e, na comparação com outros combustíveis fósseis.
A pesquisadora lembra que o IEE tem estudado o gás natural como um combustível de transição entre recursos fósseis e fontes renováveis de energia. “Nesse sentido, são realizadas pesquisas visando à maior inclusão do gás natural na matriz energética brasileira”, destaca. “Além disso, o Brasil apresenta geologia favorável à ocorrência de fontes de gás natural como o shale gas, a qual pode vir a ser estratégica para o país em termos econômicos e de segurança energética”.
Haline aponta que, segundo aspectos ambientes e regulatórios, potenciais impactos relacionados à implantação da técnica de faturamento hidráulico, essencial a essa exploração do gás, e ao aquífero Guarani vieram a, temporariamente, por meios regulatórios, suspender o desenvolvimento dessa atividade. “Nesse contexto, a pesquisa concluiu que o controle e implantação de tecnologias exploratórias adequadas não ofereceriam risco”, observa. “No entanto, mais estudos são necessários como forma de prevenir eventuais danos”. A pesquisada foi orientada pelo professor Colombo Celso Gaeta Tassinari, atual diretor do IEE.