Esporte não afasta adolescentes do consumo de drogas, mostra estudo

Pesquisa revela que a prática de atividades físicas e esportivas não evita que jovens consumam quaisquer tipos de drogas

 27/09/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 21/08/2018 às 17:01

Pesquisas constatam relação diretamente proporcional entre o nível de intensidade da atividade física e o uso de drogas, mas não é possível estabelecer causalidade entre os fatos – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Quando se pensa no hábito das atividades físicas, que costuma ser relacionado à qualidade de vida, e no o problema de saúde pública que constituem as drogas, surge uma revelação contrária ao senso comum – a prática de atividades físicas e esportivas, recreativas ou competitivas não evita que os adolescentes consumam quaisquer tipos de drogas.

Em artigo na SMAD – Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, Bruno de Oliveira Pinheiro, André Luiz Monezi Andrade e Denise De Micheli nos apresentam essa realidade intrigante: “adolescentes que praticam uma alta intensidade de atividade física apresentaram os piores níveis de qualidade de vida” no que diz respeito à autonomia ou relacionamento com os pais, amigos, apoio social e desempenho escolar. Inclusive, são os que apresentam “os maiores índices de consumo de substâncias psicotrópicas, bebidas energéticas e suplementos alimentares”.

O assunto é debatido abordando pesquisa que investigou a relação entre atividade física baixa, moderada e alta, qualidade de vida e consumo de substâncias psicotrópicas entre jovens de 14 e 18 anos, de ambos os sexos, alunos de escolas da rede pública de Guarulhos, na grande São Paulo. Buscou-se analisar “a real contribuição da prática esportiva como estratégia de prevenção ao uso de drogas, considerando os índices de qualidade de vida e padrões de consumo dessas substâncias”.

Percebe-se que o que leva a grande maioria dos adolescentes a praticar esportes em academias e clubes não é a valorização da saúde, mas  da imagem, a busca pela melhor aparência física. Isso, em grande parte, deve-se “ao fato da indústria lançar constantemente produtos com promessas de efeitos imediatos e milagrosos, associado à ausência de legislação rigorosa, que permite a comercialização sem prescrição médica”, afirmam os autores.

 

Arte sobre foto Wikipedia

Outras  pesquisas nessa área também surpreendem. Alguns autores avaliaram a relação entre a prática esportiva e consumo de álcool ou tabaco de 13.872 estudantes e computaram índices consideravelmente maiores de consumo de álcool entre os que praticavam esportes regularmente. Um dado também não esperado, porém importante, “refere-se à porcentagem (70%) de ‘não usuários’ entre os adolescentes do grupo de baixo nível de atividade física”. O relato dos pesquisadores propõe uma ligação entre o nível de intensidade da atividade física e o uso de drogas, mas, “em hipótese alguma estabelece causalidade entre os fatos”.

Não se pretende restringir ou impedir a prática esportiva competitiva entre adolescentes, mas é imperioso que se alerte os familiares e professores “para que estes estejam atentos às diferentes esferas da vida do adolescente, que devem ser priorizadas tanto quanto a atividade esportiva”, afirmam os autores. É urgente, desse modo, a criação de programas de prevenção de caráter educativo sobre o uso de substâncias em geral, especificamente para a população adolescente.

André Luiz Monezi Andrade é mestre e doutor pela Universidade Federal de São Paulo e professor na mesma instituição.

Denise De Micheli é doutora e professora adjunta da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Bruno de Oliveira Pinheiro
é mestre e professor.

PINHEIRO, Bruno de Oliveira; ANDRADE, André Luiz Monezi; DE MICHELI, Denise. Relação entre os níveis de atividade física e qualidade de vida no uso de drogas em adolescentes. SMAD. Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas (Edição em Português), Ribeirão Preto, v. 12, n. 3, p. 178-187, set. 2016. ISSN: 1806-6976. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/smad/article/view/120790>. Acesso em: 03 /09/2017.

Margareth Artur / Portal de Revistas da USP


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