Laser infravermelho ajuda a combater gordura no fígado

Associado a exercícios físicos e melhor nutrição, procedimento é eficiente no combate à esteatose hepática não alcoólica

 15/02/2018 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 16/05/2018 as 19:39
Nos experimentos com voluntários, o uso do laser foi associado à prática de exercícios físicos – Foto: Network on Visual Hunt – CC

O uso de laser infravermelho, associado à prática de exercícios físicos e à educação nutricional, ajuda a reduzir o nível de esteatose hepática não alcoólica – acúmulo de gordura no fígado. A diminuição foi constatada por pesquisadores do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP durante estudo que envolveu 20 voluntários obesos do sexo masculino, com idades entre 20 e 40 anos.

Manta laser – Foto: cedida pelo pesquisador

O pós-doutorando em Biotecnologia do IFSC, Antonio Eduardo de Aquino Júnior, um dos autores do estudo, explica que, quando se ingere mais calorias do que se pode gastar, o corpo não as elimina, sendo então forçado a alojá-las dentro de células de gordura. No entanto, quando a capacidade de alojar essas calorias extras ultrapassa o limite celular, o corpo passa a estocar esse excesso de outra forma, para não desperdiçar energia. Todo esse acúmulo se concentra no fígado, em forma de triglicerídeos, proporcionando um fenômeno conhecido como citotoxicidade. Quando o órgão armazena muitos triglicerídeos, surge a esteatose hepática não alcoólica, complicação que pode gerar câncer.

Todos os voluntários participantes do estudo receberam informações nutricionais e a ingestão de bebidas foi evitada. Durante dois meses, três vezes por semana, dez voluntários realizaram uma hora de exercícios aeróbicos e resistidos (musculação) recebendo, em seguida, dez minutos de aplicação de luz instalada em quatro placas com 16 emissores de laser (cada), que foram colocadas sobra o abdômen, quadríceps, glúteos e bíceps, estimulando o gasto de energia acumulada. Outros dez voluntários não receberam a aplicação da terapia com luz.

“É uma forma não apenas de proteger o paciente contra a obesidade, mas também de impedir que em longo prazo ele possa ter câncer de fígado”, explica Aquino.

Durante dois meses, três vezes por semana, metade dos voluntários realizou uma hora de exercícios aeróbicos e resistidos (musculação) – Foto: Marcos Santos/USP imagens

 

Enzimas hepáticas

Orientação para atividade física – Foto: cedida pelo pesquisador

Segundo o cientista, o diferencial deste projeto foi a análise do que ele chama de TGP, TGO e GGT – três enzimas hepáticas responsáveis pelo metabolismo de várias ações do fígado. Os cientistas notaram que a ação do laser, conjugada à prática de exercícios e educação nutricional, foi “extremamente” benéfica porque, ao estudar as enzimas, observaram que nos homens que realizaram o tratamento com uso de luz houve uma redução de 80%-90% a mais dessas enzimas, em relação aos voluntários que fizeram apenas os exercícios e participaram da educação nutricional.

Aquino comenta, também, que se observou algo nunca relatado na literatura científica: a relação entre redução da gordura visceral (localizada próxima à região da barriga) e a diminuição das enzimas hepáticas, na alteração da esteatose hepática não alcoólica. Ou seja: “Quanto menor a gordura visceral, menores serão as enzimas hepáticas”, diz o especialista, acrescentando que, hoje, a análise de esteatose hepática não alcoólica é feita através de exame de sangue ou ultrassom.

Além da gordura visceral, outros parâmetros, como peso corporal, gordura total do corpo, colesterol e lipoproteína de baixa densidade (LDL), os triglicerídeos também foram reduzidos, conforme os pesquisadores notaram durante o tratamento.

Antonio Eduardo de Aquino Júnior, do IFSC – Foto: Cedida pelo pesquisador

Um dos objetivos do projeto, de acordo com Aquino, é fornecer à comunidade médica uma tecnologia que proporcione aos pacientes um tratamento alternativo para combater a obesidade, cujas soluções atuais se baseiam na adoção de um estilo de vida saudável, uso de medicamentos ou cirurgia. Além disso, a possibilidade de que professores de educação física possam utilizar a tecnologia de lasers e LEDs é uma realidade confirmada pelo Conselho Federal de Medicina e, desta maneira, pode ser acessada de forma mais facilitada por todos.

Apoiado pelo Centro de Pesquisas em Óptica e Fotônica (Cepid Cepof), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela empresa MMOptics, o estudo foi desenvolvido sob a orientação do professor Vanderlei Salvador Bagnato (IFSC) em parceria com as pesquisadoras do IFSC Fernanda Mansano Carbinatto e Lilian Tan Moriyama.

Em janeiro deste ano, um artigo referente à pesquisa foi publicado no Journal of Obesity & Weight Loss Therapy.

Rui Sintra e Thierry Santos /Assessoria de Comunicação do IFSC

Mais informações: (16) 3373-9810 (ramal 242); e-mail antonioaquino@ifsc.usp.br 

 


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