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O uso da cana-de-açúcar para a produção de combustível gera um resíduo chamado de vinhaça. Esse subproduto pode ser utilizado para a geração de energia elétrica e ainda diminuir os riscos de contaminação do ambiente. É o que aponta uma pesquisa da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (Fearp) da USP.
O administrador Geraldo José Ferraresi de Araújo analisou, em sua dissertação de mestrado, se é viável economicamente empregar a vinhaça na geração de energia. Ele também verificou a possibilidade de adotar o resíduo como fertilizante após ser usado para gerar energia, já que atualmente ele é utilizado na forma in natura (do modo como sai da produção do etanol).
A geração de energia se daria através de um biodigestor de circulação interna (IC – na sigla em inglês) e um motor de combustão interna de rendimento de 38%. A vinhaça teria sua carga orgânica processada pelo biodigestor produzindo biogás, posteriormente queimado pelo motor, gerando eletricidade.
O cenário que Araújo utilizou para estudo traz uma taxa de atratividade – que é a nota de corte utilizada para verificar o risco do investimento – de 15%, com um prazo de 20 anos para a viabilidade do projeto. A energia gerada não teria isenção fiscal, sendo cobrados impostos sobre ela. Nessa simulação, o valor da taxa mínima de atratividade empregada é o utilizado pelo setor sucroenergético para avaliação econômica e financeira de novos empreendimentos.
“Como subproduto eu coloquei a eletricidade, o crédito de carbono e o fertilizante. Nesse cenário específico, é viável a utilização da vinhaça para a geração de energia elétrica”, explica Araújo.
Além de analisar a viabilidade econômica, o pesquisador também estudou a viabilidade ambiental. A vinhaça utilizada como fertilizante in natura chega a ser cem vezes mais poluidora que o esgoto doméstico, contaminando o solo e o lençol freático. Após o processo, a vinhaça teria a carga poluidora diminuída e ainda seria possível usá-la como fertilizante.
“Em alguns países da América Latina, onde há uma produção substancial de etanol ou rum, essa prática de usar a vinhaça in natura como fertilizante já é proibida”, comenta Araújo.
Para o administrador, são necessárias políticas públicas de incentivo a energias renováveis no Brasil e a vinhaça pode atender essa demanda. “Nessa época de estiagem, se tivéssemos um parque bioelétrico mais robusto, nós estaríamos provavelmente em bandeira amarela ou até mesmo verde.”
As bandeiras de que o pesquisador fala são as bandeiras tarifárias implantadas em 2015 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nas contas de energia. A bandeira verde é a que não indica aumento na conta; na bandeira amarela há um acréscimo de R$ 0,02 para cada quilowatt-hora (kWh); a bandeira vermelha indica aumento de R$ 0,03 kWh, quando no patamar 1; já a bandeira vermelha, no patamar 2, traz um aumento de R$ 0,035 kWh na conta do consumidor.
A pesquisa Análise energética, ambiental e econômica de biodigestores de circulação interna e concentradores de vinhaça para geração de eletricidade, fertilizantes e crédito de carbono em diferentes cenários econômicos teve orientação da professora Sonia Valle Walter Borges de Oliveira, da Fearp.
Lívia de Oliveira Furlan, de Ribeirão Preto