Brasil reduziu desigualdades entre 1960 e 2010

O Brasil de 2010 é um país menos desigual que o Brasil de 1991. País se tornou menos desigual em vários aspectos, mas persiste a desigualdade entre brancos e não brancos no mercado de trabalho. Estes são alguns dos diagnósticos que os pesquisadores do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) apresentam no livro Trajetórias das Desigualdades – Como o Brasil mudou nos últimos 50 anos.

 01/06/2015 - Publicado há 9 anos     Atualizado: 18/10/2019 às 11:34
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Brasil se tornou um país menos desigual em vários aspectos, mas persiste a desigualdade entre brancos e não brancos no mercado de trabalho

Capa do livro Trajetórias das Desigualdades - Como o Brasil mudou nos últimos 50 anos

O Brasil de 2010 é um país menos desigual que o Brasil de 1991. A universalização do direito ao voto, do acesso ao ensino fundamental e a expansão dos serviços como água encanada e energia elétrica derrubaram barreiras que, 25 anos atrás, excluíam grupos sociais e moradores das regiões Norte e Nordeste do mapa de desenvolvimento do País.

Resistem, porém, desigualdades importantes no mercado de trabalho: homens ainda ganham mais que as mulheres, e brancos estão mais bem colocados que não brancos. A desigualdade entre brancos e não brancos foi a que teve menor redução, inclusive na escolaridade.

Estes são alguns dos diagnósticos que os pesquisadores do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) apresentam no livro Trajetórias das Desigualdades – Como o Brasil mudou nos últimos 50 anos, que será lançado em um seminário nesta terça-feira, a partir das 9 horas, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Surpresa brasileira

A redução da desigualdade no Brasil contrariou as expectativas teóricas das ciências sociais, como explica Marta Arretche, diretora do CEM, no vídeo abaixo.

O livro é o primeiro grande balanço produzido pelas ciências sociais sobre as transformações pelas quais o Brasil passou em meio século.

Novos bancos de dados

Para entender o que mudou, em que ritmo mudou e o que permaneceu ao longo de cinco décadas, os pesquisadores do CEM fizeram tabulações próprias dos dados dos Censos Demográficos de 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010, do IBGE. Veja a seguir, o comentário da diretora do CEM.

A grande massa de dados organizada está disponível no site do CEM.

Por que desigualdades?

Outra característica que torna o livro inovador é tratar a desigualdade em outros aspectos, além da desigualdade de renda — que é o enfoque mais comum dos trabalhos anteriores. A abordagem ampla permite uma visão mais completa do que acontece no País, como se pode ver a seguir:

Conteúdo

O livro mostra como as desigualdades são afetadas pela participação política, pelo acesso à educação, ao mercado de trabalho, pelas migrações, questões de gênero, relações raciais, saúde, religiosidade, condições de habitação e de infraestrutura urbana.

Resultados

Os 14 capítulos do livro traçam o retrato de um país que, no começo da década de 1960, era majoritariamente rural e com oferta de serviços muito concentrada nas regiões Sul e Sudeste. “O Brasil mudou muito nos últimos 50 anos e isso alterou completamente as condições para a redução das desigualdades. Em 1960, tinha baixa desigualdade, mas era uma igualdade na pobreza. Já em 2010, 85% da população vivia no meio urbano. Multiplicou-se por seis a população que chegou ao ensino médio e à universidade desde 1980, as taxas de fertilidade caíram a partir de 1982. A mão de obra abundante e com baixa escolaridade da década de 1960 não existe mais”.

A população de mais de 18 anos que chegou ao ensino médio pulou de 6,2 milhões, em 1980, para 39,7 milhões em 2010; a que chegou ao ensino superior passou de 3,4 milhões para 21,5 milhões. A participação eleitoral se expandiu amplamente: o Brasil passou de um contingente de 7,4 milhões de eleitores em 1945 para 135,5 milhões em 2010.

A atualidade do tema e a abordagem do livro também levantam interesse internacional, principalmente pela comparação entre a trajetória brasileira e dos países desenvolvidos nas últimas duas décadas. Nos Estados Unidos, os 1% mais ricos concentraram capital entre 1991 e 2012, passando de 12,2% da renda nacional para 19,3%. No Brasil, em 1989, o piso da renda dos 5% mais ricos correspondia a 79 vezes o teto da renda dos 5% mais pobres; em 2012, essa razão caiu para 36 vezes.

Mulheres e não brancos

Outra descoberta foi a grande diferença entre a trajetória das mulheres e dos não brancos nesses 50 anos. As mulheres conseguiram reduzir mais rapidamente a desigualdade em relação aos homens, enquanto os negros não tiveram o mesmo progresso. Em 1981, os homens com renda mais alta tinham o dobro da renda das mulheres na mesma faixa e os brancos, três vezes a renda dos negros. Em 2001, as mulheres conseguiram avançar, com homens ainda ganhando uma vez e meia mais. Esse patamar de diferença só foi atingido pelos negros em 2012.

O trabalho confirma, ainda, a importância das políticas públicas para a redução das desigualdades. Segundo Marta, nas últimas décadas, a política educacional a partir do governo FHC produziu um efeito de diminuição das desigualdades de acesso à escola e, posteriormente, ao mercado de trabalho. No governo Lula, os principais avanços foram na redução da extrema pobreza e na redução das desigualdades regionais, com avanços nas regiões Norte e Nordeste, principalmente.

Produção de texto e vídeos: Ana Paula Chinelli, Fabiana Mariz e Silvana Salles
Colaboração: Alexandre Gennari, Djalma Moraes e Thales Figueiredo / TV USP

Mais informações: (11) 5574-0399 – ramal 128 (Cebrap), na Assessoria de imprensa do CEM; ou (11) 3091-2097 (FFLCH/USP)

 

Reportagem publicada originalmente na Agência USP de Notícias


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