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A 14ª edição do Relatório Planeta Vivo, documento emitido pela organização não governamental internacional World Wide Fund for Nature (WWF) sobre a biodiversidade, apontou que, entre os anos de 1970 e 2018, a América Latina e Caribe acumulou uma perda de 94% em sua biodiversidade. Desse total, 83% correspondem a espécies que vivem em água doce.
O professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, Ricardo Macedo Corrêa e Castro, especialista em peixes de água doce, explica que grande parte das espécies ameaçadas é de peixes pequenos. “Setenta por cento dessa enorme fauna de peixes de água doce têm aproximadamente 15 cm ou menos de comprimento quando adulta. Então, a nossa fauna de peixes é dominada por peixinhos, peixinhos que vivem em poças temporárias, os chamados peixes das nuvens ou peixes da chuva, ou então vivem em riachos.”
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De acordo com Castro, parte da razão para a extinção dos peixes ao longo das décadas, é o histórico de abuso de corpos d’água, ou seja, oceanos, mares, lagos, poças, riachos, etc. O uso de hidrelétricas, por exemplo, apesar de ser considerado como energia limpa, impacta diretamente na reprodução e desenvolvimento de peixes maiores. “As grandes barragens impedem as migrações reprodutivas, as chamadas piracemas, […] você transforma um ambiente de água corrente, com ciclos de cheia e vazante, alagamento de várzea num lago imenso, muitas vezes com a água do fundo parada, quase sem oxigênio.”
O relatório aponta que a principal solução para a diminuição da população de peixes migratórios é a remoção de barragens. “A remoção de duas barragens e a melhora de outras no rio Penobscot, no Maine, EUA, resultaram em um aumento de algumas centenas para quase 2 milhões de arenques em cinco anos, o que permitiu que as pessoas retornassem à pesca”, exemplifica o documento.
Peixes pequenos
No caso dos peixes menores, que em geral vivem em riachos, o professor explica que o maior problema “está na retirada da vegetação nativa para produção de pastos ou plantações e esse ambiente apresenta pouca resistência a mudanças”.
Castro conta que a maior parte do Brasil era coberta de florestas na época do descobrimento, e que por isso a maioria dos riachos corria dentro de uma galeria fechada de mata. Essa mata impedia a erosão e a incidência direta da luz do sol na água, mantendo as águas frias e o leito formado por pedras e galhos, grandes fontes alimentícias para a biodiversidade do ambiente. “Quando você simplesmente retira essa mata, dá para imaginar o desastre que foi? A erosão aumenta; o fundo do riacho vira um areal estéreo; praticamente muda totalmente a disponibilidade de alimento. A temperatura da água começa a variar ao longo do dia, isso quando o riacho não seca.”
COP27
Em novembro, no Egito, na 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP27), foi discutida, entre outras coisas, a possibilidade de estabilização ou diminuição do acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre. Segundo o professor, as mudanças acordadas na conferência, mesmo que pequenas, trazem mudanças positivas para as espécies de água doce, já que o aquecimento global altera ciclos de chuva, ciclos hidrológicos e a vida dos organismos que vivem nas águas doces. “Qualquer ganho e avanço que tenha havido na COP27 é um ganho e um avanço para a conservação da biodiversidade, incluindo a das águas continentais, as águas chamadas doces”, conclui.
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