Nem tudo na relação de um casal deve ser compartilhado

Isabel Cristina Gomes diz que saber o momento de compartilhar e preservar a individualidade ajuda na construção de um relacionamento saudável

 31/01/2024 - Publicado há 3 meses     Atualizado: 01/02/2024 as 17:45
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Casal deve encontrar solução para problemas de relacionamento – Ilustração: Dzianis Vasilyeu/Vecteezy

 

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A balança entre a união e a preservação da individualidade em um relacionamento é constantemente posta à prova, provocando reflexões sobre os limites necessários para uma relação duradoura e equilibrada. Dividir tudo com o parceiro se torna uma dualidade de expectativa e apreensão, principalmente em um novo relacionamento, mas será que a total transparência é o caminho para uma relação saudável?

Isabel Cristina Gomes – Foto: IP-USP

No caso do casal Marcelo e Lucélia Egydio, ele, empresário, ela, podóloga, ambos residentes de Ribeirão Preto e casados há mais de 20 anos, prevalece a crença de que a individualidade é consequência de limites e acordos preestabelecidos que sempre proporcionaram estabilidade e compreensão sobre as necessidades individuais. Para eles, o limite sempre contribuiu positivamente, embora reconheçam que, ocasionalmente, algumas pessoas possuem uma tolerância um pouco maior do que outras, algo que, segundo Marcelo, se revela ao longo da jornada do casal.

Segundo Isabel Cristina Gomes, especialista em Psicanálise de Casal e Família do Departamento de Psicologia Clínica da USP, a preservação da individualidade é crucial para construir relacionamentos saudáveis. Ela ressalta que, historicamente, a anulação da individualidade era mais prevalente entre as mulheres, já que muitas vezes elas abdicaram de desejos e valores para seguir o pai, o namorado e, por fim, o marido, mas que as mudanças pós-feminismo e a busca pela igualdade de gênero têm influenciado casais a priorizar seus espaços individuais. 

No entanto, a especialista observa que alguns casais ainda sacrificam sua individualidade, acreditando que renunciar aos seus desejos e abdicar de suas vontades para realizar todas as atividades em conjunto é indicativo de um grande amor. “Mas, muitas vezes, o que temos é uma relação de dependência. Parece que um não pode existir sem o outro e nessas perspectivas observamos que sempre um se destaca, quase se colocando como dominador sobre o outro”, esclarece a psicóloga. 

Perspectiva igualitária

Nesse caso, Isabel afirma que a grande saída é que ambos se vejam em uma perspectiva mais igualitária. Assim, podem cultivar um relacionamento mais saudável, em que o apoio mútuo se torna uma fonte de crescimento conjunto. Já Marcelo destaca a importância de respeitar os limites. Ele comenta que “crenças, religiões e o trabalho são grandes pilares individuais, que devem ser valorizados”. No entanto, mesmo após duas décadas de relacionamento, ele reconhece que nem tudo está completamente definido, especialmente quando a questão envolve as famílias.

Marcelo Egydio – Foto: Arquivo pessoal
Lucélia Egydio – Foto: Arquivo pessoal

“A Lucélia possui a sua própria família, enquanto eu tenho a minha. Não sinto necessidade de me envolver nos problemas que surgem na família dela. Quando ela precisa resolver algo, respeito a sua individualidade. Da mesma forma, deveria acontecer comigo, mas como passamos mais tempo no meu círculo familiar, ela acaba se interessando em resolver questões que surgem nesse ambiente. Então, nem sempre essa individualidade está tão evidente do meu lado”, relata Marcelo.

Mas, segundo Isabel, o respeito à individualidade baseia-se principalmente na confiança mútua e ressalta que, para manter uma relação saudável, não é necessário compartilhar todos os detalhes de sua vida. “A intimidade não é o outro ter controle sobre mim e vice-versa. É importante ter partes da vida que não são compartilhadas, até porque existem aspectos dentro de nós que não conseguimos compreender e que, portanto, o outro não precisa saber”, expressa a psicóloga.

Assim, Isabel conclui que o parceiro ideal é alguém em quem você possa depositar confiança total, a ponto de compartilhar detalhes íntimos que talvez não revelasse a mais ninguém. “Essa postura não implica ceder controle, mas sim adotar uma perspectiva de compartilhamento onde ambos possam se apoiar mutuamente e crescer juntos”, finaliza.

*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior


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