Demissões em Ribeirão Preto chegam a 40% das empresas

Falta de política e apoio financeiro aos empresários deve tornar ainda mais difícil retomada econômica pós-pandemia

 29/05/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 07/06/2024 as 10:47
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Seguro-desemprego tem como objetivo garantir assistência financeira temporária enquanto o beneficiado se recoloca no mercado de trabalho – Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
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Cerca de 40% das empresas de Ribeirão Preto já demitiram funcionários desde o início do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus. Pesquisa da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), realizada com 306 empresas associadas, mostra que 120 delas fizeram demissões entre abril e maio. 

Segundo o levantamento, a dificuldade de conseguir empréstimos em bancos tem sido um dos principais motivos das demissões. De acordo com a pesquisa, quase 60% das empresas tiveram solicitações de crédito negadas. 

O gestor de competitividade da Acirp, Eduardo Molina, explica as dificuldades dos empresários em conseguir financiamento e faz uma crítica aos bancos do País. “Os bancos estão tão acostumados a ganhar dinheiro fácil, que não se prepararam para atender às necessidades, principalmente de financiamento a longo prazo. Os bancos são avessos ao risco e acabam exigindo um nível de garantia muito alto, que as empresas, muitas vezes, não têm condições de atender.” 

Para o professor Edgard Monforte Merlo, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, as empresas precisam que recursos e financiamentos sejam disponibilizados para o capital de giro, já que muitas tiveram o faturamento interrompido ou reduzido. 

“Os governos deveriam pensar em estabelecer uma linha de crédito, via banco público, para o financiamento dessas empresas e que tivesse uma carência, para que elas só pagassem quando voltassem à operação normal. Se isso não ocorrer, nós teremos muitas falências, o que seria terrível para um segundo momento, quando tiver a retomada”, disse Merlo. 

Molina reforça o pensamento de apoio financeiro aos empresários. Ele destaca um relatório do Banco Mundial sobre a América Latina e afirma que “é fundamental que haja política de apoio às empresas, porque se houver uma grande quantidade de empresas indo à falência, a retomada será ainda mais difícil”. 

Ele ainda lamenta o momento que o mundo empresarial está vivendo. “Nós estamos diante de um cenário onde pessoas talentosas e trabalhadoras, que seriam bem-sucedidas em qualquer outra situação, talvez percam seus negócios. Então, é necessário ter políticas de transição, que garantam apoio a elas.” 

Algumas medidas que facilitam a suspensão de contrato de trabalho ou a redução de salário dos funcionários, durante a pandemia, foram adotadas. Mas o economista da Acirp, Gabriel Couto, ressalta que os empresários devem tomar os mesmos cuidados de antes ao demitir um funcionário. 

Couto alerta que as medidas de rescisão contratual ainda seguem os mesmos moldes de antes do período de isolamento social e destaca que “se o empresário demitir algum empregado, terá que arcar com todos os encargos já conhecidos”. 

O professor Merlo ainda destaca que o Poder Público Municipal também pode ajudar esses empresários de outra forma, não apenas financeiramente. O professor explica que a Prefeitura pode incentivar e ajudar as empresas a migrarem para as vendas on-line durante este período de isolamento. 

A criação de um espaço dentro do portal da Prefeitura é defendida por Merlo como uma outra forma de ajuda aos empresários. “Poderiam criar um portal, por regiões da cidade, com informações das empresas para determinada prestação de serviço ou venda de produtos. Se a Prefeitura incorporar essa nova função dentro do seu portal, pode ser uma ação importante, que ajudaria muito essas pequenas”, destacou.

Ouça a entrevista no link acima.


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