![A imagem retrata uma pintura com vários matizes de azuis e cinco cisnes brancos em um lago.](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2024/05/The-silver-swan-img-1-1024x718.jpg)
![Homem branco de óculos com lentes no formato retangular e cabelos lisos castanhos. Camiseta branca e em frente a um fundo branco.](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2024/05/IMG_1702_400x400-300x300.jpg)
Hoje vamos apreciar uma obra coral do compositor inglês Orlando Gibbons (1583-1625). Ele foi um músico formado na forte tradição de canto coral da Inglaterra. Foi menino cantor do King’s College, em Cambridge (coro que existe até hoje!), e posteriormente atuou também como organista na Chapel Royal e na Abadia de Westminster. Além disso, teve formação acadêmica em Cambridge e Oxford. Um dos mais importantes compositores ingleses do início do século 17, Gibbons escreveu muita música sacra e secular, música vocal, a instrumental.
A peça que vou comentar é The Silver Swan, uma composição a cinco vozes, de caráter filosófico, cuja partitura foi publicada em 1612. Gibbons adota uma escrita polifônica, mas com contraponto despojado, límpido e elegante. As harmonias bem definidas refletem o momento histórico em que a obra foi composta, na transição entre o Renascimento e o Barroco.
Gibbons inspirou-se na lenda do canto do cisne, segundo a qual o único momento em que o cisne canta em toda a sua vida é na hora da morte. A letra da música diz:
“O cisne prateado que, vivendo, nunca emitiu um som,
Na proximidade da morte liberou sua garganta silente.
Reclinou seu corpo junto a uma margem juncosa
E pela primeira e última vez cantou,
E então nunca mais.
Adeus, todas as alegrias,
A morte vem fechar meus olhos.
E agora vivem mais gansos que cisnes,
Mais tolos que sábios.”
Apesar da aparência trágica do texto, Gibbons prefere destacar o conteúdo filosófico, elaborando uma peça que flui com serenidade, como um cisne deslizando na água, sem nenhum elemento apelativo. Esse tratamento amplia grandemente a expressividade da canção.
É interessante observar que na lápide de Gibbons, entre outras informações, encontram-se os dizeres: “Com o toque de seus dedos, ele emulou a harmonia das esferas”.
*Texto escrito por Alberto Cunha, regente dos grupos Coralusp Jupará e Coralusp Zimana