Há quase 20 anos, mais precisamente em abril de 1999, 12 estudantes e um professor foram mortos a tiros numa escola norte-americana de Columbine. Não foi o único caso, uma vez que o horror voltaria a se repetir outras vezes, na forma de massacres semelhantes nos EUA. No mais recente, no mês passado, 17 jovens morreram em uma escola na Flórida, em um ataque perpetrado por um ex-aluno de 19 anos, armado com um fuzil AR-15. Até o Brasil foi palco de tragédias semelhantes em pelo menos duas ocasiões. Na primeira, há sete anos, um atirador abriu fogo contra crianças e adolescentes de uma escola municipal, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro – 12 alunos morreram e 13 ficaram feridos. Mais recentemente, em uma escola particular em Goiânia, um estudante de 14 anos matou dois de seus colegas e feriu outros quatro – uma das vítimas ficou paraplégica.
A professora Silvia Gasparian Colello, da Faculdade de Educação da USP, admite que ocorrências como essas chocam e surpreendem toda a sociedade, o que não impede, porém, que tais notícias sejam veiculadas com um certo grau de sensacionalismo, que pode até ser compreensível para aquela determinada situação, mas que “não ajuda a compreender a situação a fundo, as raízes, o sentido dessa violência. Então, a pergunta é: Por que esse tipo de coisa acontece? Em que condições acontece? Como a gente pode evitar esse tipo de coisa?”. Para ela, é preciso ir mais a fundo na compreensão desse fenômeno, “que é um fenômeno social”. Tragédias como as que foram relatadas acima não podem parar no sensacionalismo per se, precisam gerar consciência, para que o jovem possa compreender a razão desses fatos e relacioná-los com o seu mundo do dia a dia.
” O perigo é o jovem de hoje falar ‘os americanos são uns loucos’ e não perceber que aqui a gente tem coisas muito semelhantes.” É preciso discutir as causas, diz a professora Silvia, o sentido desse tipo de ocorrência no contexto das tensões sociais e das dificuldades e perspectivas de vida dos jovens.
Na opinião da professora Adriana Marcondes Machado, do Instituto de Psicologia da USP, a violência é um assunto que precisa ser abordado na escola, desde que se respeite as diferentes faixas etárias, pois não se pode conversar com crianças de 10 e 11 anos da mesma forma com que certos temas são abordados com jovens de faixa etária mais alta, assim como deve ser levada em conta a realidade social em que uma determinada escola está inserida, no sentido de estar ou não exposta à violência em seu dia a dia. De acordo com Adriana, as atitudes educacionais têm relação com a produção de reflexão. “A escola existe para produzir pensamento, reflexão, aprendizagem”, ressalta. “Então, o que a gente aprende a pensar a respeito dessas histórias, que elementos a gente aprende a colocar em jogo, nesse jogo que constrói esse tipo de situação.”