Vacina em spray contra a covid-19 pode chegar ao mercado até 2023

Jorge Kalil, do Incor, fala sobre a vacina de aplicação nasal, uma aliada potente para combater a transmissibilidade do vírus, mas que encontra dificuldades em alcançar o público

 02/02/2022 - Publicado há 2 anos
Vacina spray nasal – Fotomontagem sobre imagem de flockine via Pixabay

Cientistas estudam o que é chamado de “segunda geração de vacinas”: vacinas para covid-19 administradas de formas alternativas à injeção intramuscular. Uma pesquisa do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP busca disponibilizar uma vacina em spray, de aplicação nasal.

O pesquisador Jorge Kalil, do Incor, conversou com o Jornal da USP no Ar 1ª Edição sobre a pesquisa, pela qual é responsável. O pesquisador explica que as vacinas de injeção intramuscular produzem muitos anticorpos circulantes, que previnem contra os sintomas e o desenvolvimento da doença, mas nem sempre produzem a quantidade desejada de IgA secretório, anticorpo presente nas secreções, mais presentes nas mucosas, como no nariz e na boca.

A vacina de aplicação nasal

Jorge Kalil – Foto: LinkedIn

“As vacinas protegem contra a doença, mas nem sempre protegem contra a infecção no nariz”, comenta. “Eu posso, mesmo vacinado, estar com o vírus no nariz e na boca e estar transmitindo para outras pessoas.”

Por esse motivo, pesquisadores do Incor pesquisam desde o início da pandemia a possibilidade de uma vacina de aplicação nasal. “Se você fortalecer bastante o sistema imune ali, o vírus não penetra no organismo e não dá nem infecção nem doença”, explica o pesquisador, que acredita que essa vacina é a solução para efetivamente combater a pandemia.

“Fizemos a vacina de tal forma que nós podemos alterar a vacina de acordo com as variantes mais importantes que estejam circulando.” O professor compara a vacina com o conhecido brinquedo Lego: “Nesse Lego, eu posso tirar uma pecinha e colocar a outra pecinha e o resto ficar igual”.

Dificuldades enfrentadas

Kalil explica que o desenvolvimento de um produto de inovação na área médica passa por diferentes etapas: “Uma coisa é fazer a ciência e descobrir alguma coisa. A outra coisa é desenvolver a parte mais industrial do que se faz, para poder testar em gente. E a terceira etapa é a fabricação em larga escala. São três coisas que parecem ser semelhantes, mas que não são”.

O pesquisador explica que a grande dificuldade encontrada no Brasil está em transformar a descoberta científica em produto. “O Brasil já fez grandes descobertas e fez pouquíssimos produtos, porque ainda não existe uma boa comunicação entre o que nós fazemos na Universidade com a ciência e o que é industrializado depois.”

É essa situação que está impedindo a comercialização da vacina nasal desenvolvida pelo Incor. Kalil comenta que o Brasil não cumpre a etapa de industrialização das vacinas e as empresas do exterior estão sobrecarregadas. O Incor também aguarda autorização da Anvisa para testes em humanos.

Por essa situação, ainda não é possível saber quando as vacinas estarão disponíveis, mas o professor acredita que isso acontecerá até 2023. “Quando a gente conseguir vencer esta barreira, eu acredito que a gente vai conseguir desenvolver rapidamente”, comenta.


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