Tecnologia aumenta absorção de proteína do leite em até 50% para idosos

Processo, já utilizado em segurança alimentar, segue sob estudo para chegar à indústria, diz Daniel Cardoso

 14/08/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 16/08/2019 às 14:26
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Em 2050, os idosos do Brasil representarão quase 30% da população nacional – Foto: Pixabay / Reprodução / IQSC / USP

Em 2030, o número de idosos do Brasil ultrapassará pela primeira vez o de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O aumento da expectativa de vida desafia a sociedade a desenvolver soluções que promovam um envelhecimento cada vez mais saudável, principalmente com relação aos aspectos fisiológicos do público da terceira idade. Uma contribuição nesse sentido é um estudo da USP, que modificou uma das principais proteínas do leite a fim de aumentar a digestão em idosos. Para transformar a proteína, foi utilizada luz ultravioleta (UVC). O método utilizado na pesquisa foi aplicado para avaliar como seria o processo digestivo em adultos e crianças. Em ambos os casos, o aumento na digestão foi de 25%.

“Em idosos, a melhora desse aproveitamento digestivo chegou a 50%, em relação à proteína não irradiada”, conta a pesquisadora Juliana Fracola, doutoranda do Instituto de Química de São Carlos (IQSC), ao Jornal da USP no Ar. Ela explica que a principal proteína do soro do leite para consumo humano, a beta-lactoglobulina, é de difícil absorção. “Idosos têm ainda mais dificuldades na digestão, seja pela mastigação, menor acidez do estômago, ou a menor eficiência das enzimas digestivas. Então, facilitar esse processo proporciona um envelhecimento mais saudável”, aponta.

O professor da mesma unidade, Daniel Cardoso, explica que essa proteína do soro do leite ainda tem um fator alergênico, ou seja, pode ocasionar reações alérgicas. “Então, o grupo de pesquisa trabalhou na modificação da estrutura da proteína do leite, por meio de uma tecnologia não térmica, a exposição à luz de laser ultravioleta. A técnica já é aplicada na indústria alimentícia como bactericida, para aumentar a segurança do alimento, diminuindo a carga patogênica”, esclarece.

Apesar dos resultados positivos, o uso de UVC para melhora da absorção proteica ainda não está consolidado para o uso na indústria. “Uma vez otimizadas as condições, verificado realmente o benefício e comprovada a segurança do processo, isso poderá ser feito em escala industrial”, prevê Cardoso. O que já é comum, e permitido tanto na União Europeia como nos Estados Unidos, é o uso da pasteurização UVC, conforme o químico. “O procedimento pode ser usado para uma gama muito grande de alimentos. De leite a sucos. Mas vale lembrar que os efeitos da radiação ultravioleta são diferentes em cada proteína e alimento”, indica.

Em São Carlos, os ensaios de laboratório apontaram o efeito positivo sobre a digestão, assim como na inibição do alergênico, na pesquisa de Juliana. Os trabalhos agora seguem no doutorado dela. “Queremos aprimorar ainda mais os resultados obtidos para logo oferecer esse avanço à população”, afirma.


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