Segundo estudo do Instituto Locomotiva, a classe média encolheu de 51% para 47% durante a pandemia, o que representa cerca de 4,9 milhões de famílias que já têm o mesmo tamanho da classe baixa.
Ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a professora Maria Dolores Montoya Diaz, do grupo de pesquisa EconomistAs (Brazilian Women in Economics) da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, comenta que a definição de classe média é pouco consolidada e envolve critérios variados a depender do foco da análise.
Maria afirma que a área dos estudos de desigualdade de renda costuma trabalhar com a divisão da distribuição dessa renda em partes iguais, que permite a comparação entre as parcelas da população. “O que a gente costuma utilizar é esse padrão de análise, não tanto chamar de classe média.”
A pandemia da covid-19 contribuiu diretamente com o achatamento dessa classe e o aumento da classe baixa. “A gente tem trabalhos mostrando que os grupos que foram mais atingidos foram os dos trabalhadores informais, as mulheres e os jovens”, afirma.
O auxílio emergencial foi um meio de proteger esse grupo. Segundo Maria, houve inclusive casos em que famílias tiveram um aumento de renda. “Antes, a renda era de R$ 500. O auxílio de R$ 600 acabou, para um conjunto de famílias, sendo maior do que elas recebiam anteriormente das suas atividades.”
Entretanto, há uma parcela da população que não recebeu o benefício e ficou sem a proteção econômica do auxílio. “A gente tem esse grupo, chamado de classe média, que não foi contemplado, apesar de ter sido muito atingido”, afirma. “Muitos serviços tiveram que ser fechados por conta da pandemia e a consequência é que as famílias, de repente, se viram sem qualquer tipo de apoio”, acrescenta Maria.
Com a diminuição dos valores do auxílio emergencial e o agravamento da pandemia, as classes mais baixas também ficam expostas e correm o risco de perder o pouco que ganharam. Para a professora, além do restabelecimento do auxílio com valores melhores, é preciso considerar o apoio a pequenas e médias empresas, que tiveram um papel importante na manutenção de empregos.
“Esse programa de assistência, postergando a cobrança de impostos e permitindo a redução de salários, também precisaria ser reativado”, diz. “Quanto mais tempo a gente demorar para proteger esses grupos, mais prolongada tende a ser a crise”, conclui.
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