Saneamento básico precário facilita proliferação da covid-19 no Brasil

Segundo Larissa Mies Bombardi, a falta de saneamento básico amplifica tanto o número de infectados quanto a gravidade da doença

 18/06/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 18/08/2020 às 15:51
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Um estudo realizado por pesquisadores da USP e veiculado no Le Monde Diplomatique Brasil relaciona fatores de saneamento básico como abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto com o alto número de casos e mortes por covid-19 no País, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, especificamente Amazonas e Ceará, que possuem saneamento deficitário, o que, de acordo com a pesquisa, pode permitir a proliferação do novo coronavírus.

Segundo a professora Larissa Mies Bombardi, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e idealizadora do estudo junto a Pablo Luiz Maia Nepomuceno, do mesmo departamento, a hipótese se baseia em artigos internacionais que atestam a presença do novo coronavírus nos excrementos humanos, mesmo em casos assintomáticos ou curados e, portanto, o alto número de casos de covid-19 no Amazonas e Ceará pode ter relação com a precariedade do saneamento básico, propiciando a contaminação via oral-fecal das populações que convivem com esgoto ou sem água tratada: “O vírus continua sendo secretado pelas fezes mesmo após a pessoa ter sido curada e mesmo em pessoas que estão assintomáticas. Isso representa um risco enorme para um país em que o saneamento básico é precário, porque pode sim acontecer algo que é chamado de contaminação fecal-oral, ou seja, as pessoas ingerirem o vírus por meio das fezes”.

De acordo com Larissa, é esperado que o Sudeste do País registre as maiores taxas de casos confirmados de covid-19, devido à densidade demográfica e também por sediarem aeroportos internacionais, porta de entrada do vírus: “São Paulo e Rio de Janeiro é esperado que tenham uma importante taxa de casos confirmados por milhão, ou seja, as grandes metrópoles a gente já espera que tenham essa quantidade de casos, de pessoas infectadas em relação ao total da população”, e complementa: “Agora, o que não era esperado é essa taxa de casos confirmados na Amazônia e no Nordeste do Brasil”. 

Dados de 2018 do Instituto Trata Brasil evidenciam as regiões Norte e Nordeste como precárias em relação ao saneamento básico, o que a professora diz ser um dos fatores principais para que o Amazonas e o Ceará tenham alta contaminação por covid-19: “87,5% da população de Manaus não tem acesso à coleta de esgoto. De uma forma ou de outra, as pessoas estão, no seu cotidiano, lidando com seus excrementos e com os dos outros, ou seja, com fezes e urina dispersas no ambiente ou na água. Quando a gente olha o Estado do Ceará, que, depois de São Paulo e Rio, é o Estado que se destaca em quantidade de pessoas contaminadas, tem dois elementos sobrepostos, o que é gravíssimo: falta de coleta de esgoto e falta de tratamento de água”.

O Instituto Trata Brasil ainda informa que, em 2018, o Brasil registrou 233.880 internações por doenças causadas pela precariedade de saneamento básico e 2.180 óbitos. As populações que convivem com a deficiência do saneamento básico são vulneráveis a diversas doenças, além da covid-19, o que, para Larissa, pode causar suscetibilidade a evolução grave quando contaminadas pelo novo coronavírus: “Essa falta de saneamento básico tanto amplifica o número de pessoas infectadas quanto a gravidade dos casos. Acho que tem esses dois elementos juntos. Um que eu chamaria de horizontal e outro que eu chamaria de vertical. O horizontal é esse, esse espraiamento espacial, esse aumento do número de casos, e o vertical é a gravidade da doença em pessoas que estão numa condição ambiental inadequada e vulnerável”.

Para saber mais, ouça a matéria na íntegra pelo player acima.


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