No mês de agosto, jogadores da NBA paralisaram os playoffs em protesto contra mais um ato de violência policial ocorrido nos Estados Unidos. O afro-americano Jacob Blake, de 29 anos, foi atingido por quatro de sete tiros disparados em suas costas. O incidente aconteceu em Kenosha, Wisconsin, e gerou uma onda de protestos que durou três dias. A NBA reagiu suspendendo três jogos, assim como a liga profissional de basquete feminino dos Estados Unidos (WNBA). Já a Liga de Beisebol suspendeu uma partida. Em vista dos protestos iniciados desde a morte de George Floyd, no mês de maio, em Mineápolis, o esporte tem sido usado como palco para a discussão e visibilidade da luta contra o racismo.
Segundo levantamento feito em 2019 pelo ativista de direitos humanos, Richard Lapchick, ao menos 80% dos jogadores da NBA são negros. Na visão do professor Marco Bettini, do Departamento de Educação Física e Saúde da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, os jogadores contam hoje com uma organização interna que remonta a bem antes do movimento Black Lives Matter: “Não é a primeira vez que eles [os jogadores] fazem boicote, eles já fizeram boicotes por salários pelo menos por três vezes, atrasando a temporada. Eles são muito organizados e há uma questão de igualdade de direitos que não é respeitada. As manifestações foram aumentando conforme [o aumento] da violência”.
Recentemente, a Fifa anunciou que manifestações contra o racismo não poderiam mais ser punidas. Já o Comitê Olímpico Internacional, o COI, deve manter a proibição de protesto para os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, que ocorrerão no ano que vem. O professor avalia que as posições são meramente casuísticas, já que as duas entidades pouco fizeram contra o racismo ao longo de toda a sua história: “Porque a Fifa se abstém e os jogos olímpicos não se abstêm? Porque os próximos jogos olímpicos estão mais próximos. As duas entidades têm feito muito pouco contra o racismo, aliás, elas começaram a ter punições mais severas há menos de sete anos. Precisou banana ser jogada em campo, precisou acontecer muita coisa para que a Fifa começasse a atuar realmente de acordo com uma legislação interna e o COI também, com ações que impedem atos racistas, atos ligados a preconceitos. Então, o discurso da Fifa e do COI é circunstancial. A Fifa está com esse discurso hoje porque vai demorar para ter a próxima Copa do Mundo, no Catar.”