População não deve alimentar nem matar pombos

Segundo Terezinha Knöbl, o ideal é evitar superpopulações, intervir o mínimo possível e deixar o controle dessas aves para as autoridades sanitárias, que já emitiram lei proibindo sua alimentação

 11/02/2022 - Publicado há 3 anos
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Sem predadores naturais e com alimento e abrigo em abundância, os pombos se proliferam com certa facilidade – Foto: Couleur/Pixabay
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Os pombos-comuns (Columba livia) são originários da Europa e do norte da África, na região do Mediterrâneo. Essas aves foram trazidas ao Brasil como animais domésticos e ornamentais durante a colonização portuguesa. 

Terezinha Knöbl – Foto: Arquivo Pessoal

Desde então, a espécie se adaptou muito bem ao ambiente das cidades e passou a constituir uma fauna sinantrópica, que se beneficia de condições criadas pelos seres humanos. Mas, por serem transmissores de certas doenças, sua proliferação pode representar alguns riscos à saúde pública.

A professora Terezinha Knöbl, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, explica que são as fezes desses animais que exigem maior atenção. Essas fezes servem de substrato para alguns fungos que, caso inalados, podem acarretar micoses profundas e possivelmente fatais, como criptococose e histoplasmose, assim como a clamidiose, causada por uma bactéria.

“Precisa tomar muito cuidado para não colocar essas fezes em suspensão”, orienta Terezinha. “Normalmente, quando a gente se aproxima de uma população de pombos, eles voam e colocam toda aquela poeira, aquelas fezes ressecadas, em suspensão e isso pode ser inalado.”

Por serem relativamente corrosivas, essas fezes também podem trazer danos materiais, como o entupimento de calhas e a danificação de obras e estruturas.

A proliferação de pombos em ambientes de produção ou armazenamento de alimentos representa um risco ainda maior, acrescentada a possibilidade de transmissão de salmonelose pela ingestão de alimentos contaminados.

Ácaros de pombos também podem causar dermatites e alergias, mas doenças como toxoplasmose, raiva e leptospirose não são transmitidas por essas aves.

Controle

Sem predadores naturais e com alimento e abrigo em abundância, os pombos se proliferam com certa facilidade. Para conter as superpopulações, a cidade de São Paulo adotou uma lei que proíbe “alimentar e/ou manter abrigo para alojamento de pombos urbanos”.

Os proprietários de imóveis com infestação também devem providenciar obstáculos para dificultar o pouso e a nidificação. O descumprimento dessas determinações acarreta uma multa de R$ 200, mas a falta de regulamentação dificulta que a lei seja aplicada.

De acordo com Terezinha, os pombos se alimentam de uma variedade muito grande de alimentos e não morrerão de fome caso não sejam alimentados por humanos. Por isso, restringir a oferta de comida ajuda a reduzir a taxa de reprodução dessas aves e evitar superpopulações.

“O risco de ficar jogando alimento para os pombos é ir aumentando progressivamente o tamanho dessa colônia e, consequentemente, aumentam a quantidade de fezes e o risco de transmissão de doenças”, explica a professora.

Salvo exceções, como áreas produtoras de alimentos, em que medidas de controle devem ser adotadas, o ideal é intervir o mínimo possível, sem alimentá-los nem reduzir drasticamente sua população. “Quando você tem uma área com muito resto de alimento, se você reduz a população de pombos, pode aumentar a população de ratos”, afirma Terezinha, ao comentar uma espécie de equilíbrio entre as populações desses animais.

Alguns países usam métodos contraceptivos, mas, segundo a professora, além de esses produtos não serem licenciados no Brasil, seu uso não é totalmente eficaz, ainda que ajude no controle populacional. As principais estratégias consistem na instalação de telas e barreiras físicas em locais que servem de abrigo a esses animais, como vãos de telhados e ar-condicionado.

A professora ressalta que alternativas que causem dor e sofrimento aos animais, como armadilhas e cola, não devem ser utilizadas e são enquadradas como crime ambiental. “Esse controle é feito pelas autoridades sanitárias com avaliação de caso a caso e a população não deve adotar estratégias próprias que envolvam a morte dos animais.”

Dados fornecidos ao Jornal da USP pela Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo indicam que, em 2021, foram registradas mais de 900 denúncias de infestação de pombos no município, uma média de quase três denúncias por dia. Vistorias podem ser solicitadas através da central telefônica SP156 ou pelo site sp156.prefeitura.sp.gov.br/portal.

 


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