O programa Ambiente É o Meio desta semana conversa com a especialista em monitoramento e avaliação do clima, Renata Libonati dos Santos, professora do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sobre o índice de queimadas no Pantanal e as previsões para a região em 2021.
Renata conta que um monitoramento feito pelo Laboratório de Aplicação de Satélites Ambientais da UFRJ apontou que, em 2020, o Pantanal viveu dias históricos. De acordo com os dados, o tamanho do território queimado nesse ano foi maior do que a média dos últimos 20 anos. Foi incendiado cerca de 30% da região, contra os 8% registrados anualmente. Cerca de 40% do território devastado não pegava fogo desde 2001.
Entre os motivos para a devastação, segundo Renata, está outro recorde histórico que aconteceu do final de 2019 ao início de 2020, o intenso período de seca que atingiu a região. A professora conta que foi “o maior período de seca dos últimos 60 anos que se tem registro”. Diz que os níveis dos rios abaixo da média e a falta de chuva prolongada, aliados a um estresse da vegetação e do solo e a fatores externos, como a ação do homem, culminaram na catástrofe registrada.
Para 2021, segundo Renata, a região ainda pode enfrentar períodos de estiagem, devido ao aumento de temperatura na região, que desde 1980 já teve um aumento de quase 2º C e uma redução de 25% na umidade relativa do ar. Cenário que, de acordo com especialistas, diz Renata, pode se intensificar no futuro e levar a períodos de queimadas como o que aconteceu em 2020. “Modelos climáticos e projeções que meteorologistas fazem para os próximos 100 anos apontam que essa é uma tendência que pode chegar, num cenário mais pessimista, a um aumento de 3,5º C ou 4,5º C de temperatura e diminuição de chuva de 35% a 45%.”
De acordo com a especialista, a solução para evitar esse cenário é “pensar que realmente existe aquecimento global e mudanças climáticas” e “nos organizar para procurar ações que possam mitigar os efeitos das alterações no clima”. A professora afirma que o País caminha para um ponto em que não há outra alternativa, além de “pensar em políticas públicas que levam em consideração esse tipo de fenômeno” e alerta que “o combate é muito mais caro e difícil do que a prevenção”.