Os caminhos para a aproximação da Universidade de São Paulo com suas comunidades vizinhas

O objetivo da pesquisa Censo Vizinhança da USP foi obter dados sobre as demandas sociais de seus moradores

 04/08/2022 - Publicado há 2 anos

Texto: Redação

Arte: Ana Júlia Maciel

"Quero que você se preocupe com o seu vizinho. Você conhece o seu vizinho?"

A pergunta de Madre Teresa de Calcutá, uma religiosa católica, cujo trabalho a favor dos mais pobres se tornou mundialmente conhecido, foi a inspiração para a abertura do texto Conhecer para Viver, escrito pelo diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP, Guilherme Ary Plonski. O texto está na abertura dos dois volumes, num total de 400 páginas, do Censo Vizinhança da USP , realizado pela  instituição entre janeiro de 2019 e abril de 2021, em seus vizinhos Jardim São Remo e Sem Terra, no campus do Butantã, em São Paulo, e Jardim Keralux e Vila Guaraciaba, nas suas instalações na Zona Leste da cidade.

“O Censo buscou traçar o perfil demográfico dos territórios e caracterizar os domicílios e seus moradores em relação a temas como acesso a bens e serviços urbanos, condições de vida, práticas culturais, formas de relacionamento com a USP, presença de cães e gatos, dentre outros”, diz a abertura da publicação. “O objetivo geral foi produzir dados sobre a realidade desses espaços periféricos a fim de subsidiar a identificação de suas demandas sociais.”

Maioria dos pesquisadores era de origem popular, negra e periférica

A pesquisa foi produto da Cátedra Olavo Setúbal de Arte, Cultura e Ciência, iniciada na gestão do professor Martin Grosmann durante sua gestão à frente do IEA-USP, pelo seu braço Democracia, Artes e Saberes Plurais. Nasceu sob a batuta da catedrática da época, Eliana Sousa Silva, que pôs em campo a sua “extraordinária experiência” nas comunidades da Maré, no Rio de Janeiro. Com a ajuda de Érica Peçanha e Dalcio Marinha Gonçalves, ela organizou o censo e estas publicações. Trabalharam no projeto 56 estudantes-pesquisadores, alunos e alunas de graduação e pós-graduação de diversos cursos da USP, a maioria dos quais de origem popular, negra e periférica.

“É um conjunto de informações que agregam a diversidade dos rostos, cores, idades, vivências nas muitas lutas estabelecidas ao longo da sua existência como favelas na cidade de São Paulo”, diz Eliana Sousa Silva, titular da Cátedra Olavo Setúbal de Arte, Cultura e Ciência de 2018 a 2019. ”Entendemos esse registro de informações como algo importante para que a governança da Universidade de São Paulo e, também, a sociedade civil que atua nas regiões, possam se engajar num projeto definitivo de garantia de direitos para os moradores dessas favelas”, acrescenta.

Eliana Sousa Silva – Foto: IEA-USP

Uma das perguntas que os autores do Censo se fizeram ao desenhar as pesquisas foi: “Se o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE realiza o recenseamento de toda a população brasileira, por que realizar um censo em territórios lindeiros à Universidade?”. A resposta: “Com base no acúmulo produzido na relação da USP com essas comunidades, veio a certeza de que era necessário reconhecer as condições de vida dos moradores e, consequentemente, suas demandas específicas em um nível de detalhamento maior – e mais singular – do que o proporcionado pelo IBGE”.

Uma referência inovadora, um olhar transdisciplinar

Neca Setúbal – Foto: Wikimedia

“Os dados do Censo permitem a comparação com outras regiões da cidade de São Paulo. É possível identificar, por um lado, os piores índices de renda, educação e saúde. Ao mesmo tempo, percebe-se uma maior escolaridade das meninas a partir do ensino médio, forte presença em cursinhos na própria USP e um porcentual muito maior de pessoas autodeclaradas pardas e pretas em relação à cidade de São Paulo: 61 x 37%”, relata Neca Setúbal, presidente do Conselho Curador da Fundação Tide Setúbal, que é parceira da Cátedra Olavo Setúbal do IEA-USP. “Esses são apenas alguns exemplos, pois existem inúmeros dados que poderão desencadear diversos estudos e iniciativas para a aproximação da Universidade com as comunidades lindeiras”, acrescenta.

As favelas-alvo do Censo e a USP são comunidades vizinhas, que se interferem mutuamente. Se a Universidade, há anos, promove sua aproximação com a sociedade como um todo para que interajam em benefício mútuo, nada mais natural do que isso ocorra intensamente com as comunidades lindeiras aos seus campi.

O Censo Vizinhança USP é um mapa para apontar e clarear os caminhos.

Veja abaixo o vídeo do debate de lançamento da publicação, e a entrevista  da idealizadora Eliana Sousa Silva à Rádio USP. Veja  aqui tambem um resumo das informações do censo. 

 

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