As consequências da falta de uma fiscalização eficiente no combate à ação de grileiros em território amazônico já são visíveis. Segundo o professor Pedro Luiz Côrtes, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, isso se deve a uma somatória de fatores, mas, principalmente, à falta de vontade por parte do governo de coibir esse tipo de atividade, e também pela dificuldade dos fiscais de impedir as milícias grileiras. Em abril do ano passado houve 247 km2 de áreas relatadas como possíveis focos de desmatamento, em registros de imagens de satélite. Neste ano, esse número quase que dobrou, indo para 406 km2.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, o especialista lembra que o presidente Bolsonaro já teve atritos com a estrutura de fiscalização do desmatamento, as Organizações não Governamentais (ONGs), o Ibama e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e que, só neste ano, a quantidade de vegetação agredida já é maior em relação ao mesmo período do ano passado. Com a intenção de tentar frear essa tendência, o governo lançou uma operação de Garantia da Lei e da Ordem, chamada de GLO, na Amazônia, que permite o apoio das Forças Armadas no combate a esses tipos de atividades ilegais.
Segundo Côrtes, essa medida, implementada neste mês, chega atrasada. “O governo irá usar uma GLO, mas deve se lembrar que o desmatamento não acontece de uma vez só. As madeiras de lei são comercializadas pelos grileiros, por conta do seu alto valor monetário, e a vegetação restante é alvo de queimadas, que geralmente acontecem depois de maio, e isso é o que chama mais atenção. Agora só o que o governo pode fazer é impedir que algumas áreas não sejam incendiadas, mas elas já foram agredidas de alguma forma com a retirada das grandes espécies. É uma situação preocupante, e me espanta a falta de vontade de coibir essas atividades. Se a fiscalização fosse mantida, de maneira constante e permanente, isso iria coibir as ações dos grileiros, mas o que vemos é a intensificação do que aconteceu no ano passado”, aponta o professor.
É importante lembrar também que a intervenção proposta tem um prazo de validade e que, portanto, não coibirá a ação de garimpeiros e grileiros para sempre. Côrtes alerta para o fato de que “a GLO vem para reforçar a dificuldade de chegar em algumas áreas, tendo em vista o poder de retaliação que garimpeiros e grileiros têm, uma vez que eles constituem verdadeiras milícias para garantir a posse de terras. Contudo, cessando essa operação, os problemas ambientais continuarão a existir, pois os fiscais voltarão a ter dificuldade de realizar o seu trabalho”.
Saiba mais ouvindo a entrevista na íntegra.
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