Gestão de estoques de insumos no Ministério da Saúde revela má execução de políticas nacionais

Fernando Aith analisa dados da Controladoria Geral da União sobre as perdas da pasta em medicamentos, vacinas e insumos, que chegam a um total de R$ 104 milhões apenas no primeiro semestre do ano passado

 06/07/2022 - Publicado há 2 anos
O relatório chama atenção por revelar uma inércia do Ministério da Saúde na gestão dos estoques de medicamentos, insumos e vacinas – Foto: Fotomontagem – Jornal da USP / Pixabay/Freepik
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Relatório da Controladoria Geral da União aponta que o Ministério da Saúde perdeu R$ 104 milhões em medicamentos e vacinas no primeiro semestre de 2021. O documento ainda indica R$ 20 bilhões em distorções contábeis, ocasionando a perda de 500 mil vacinas contra a hepatite B, 200 mil contra a varicela, 87 mil vacinas tetraviral, 245 mil frascos de BCG e 800 mil kits de insulina não utilizados que perderam a validade.

Fernando Aith – Foto: Reprodução/LinkedIn

Os impactos são analisados pelo professor Fernando Aith, do Centro de Direito em Saúde (Cepedisa) da Faculdade de Saúde Pública da USP. Ele conversou com o Jornal da USP no Ar 1ª Edição e explicou que o relatório chama atenção por revelar uma “inércia do Ministério da Saúde na gestão dos estoques de medicamentos, insumos e vacinas” e por ser “reflexo de uma perda de capacidade técnica do Ministério para executar políticas nacionais estratégicas” no combate a doenças no País. 

Em se tratando das perdas, Aith diz que são “injustificáveis” e relembra relatórios anteriores na mesma linha deste último, que explicitavam compras superfaturadas e a distribuição de medicamentos e insumos desnecessários, nesta mesma linha de denúncias na saúde. 

Vacinação em massa

A imunidade da população, não somente em relação à covid-19, é um dos pontos abordados pelo professor. Com o retorno de doenças como o sarampo e a varíola, o quadro ideal seria a vacinação em massa de uma população em que 80% buscaram a vacina contra o coronavírus. Na opinião dele, o governo federal, responsável pelas leis de programas estratégicos, “deveria estar fazendo campanhas de vacinação nacionais”, a fim de evitar a perda de vacinas importantes para a população. 

Ele também aborda a questão do diabete, que possui um “problema crônico no sistema público brasileiro na distribuição e acesso à insulina”, uma vez que a população não encontra o hormônio em postos de saúde e hospitais para a distribuição. Enquanto o acesso a esse tipo de medicamento requer judicialização, há um estoque não utilizado que acaba excedendo o prazo de validade. 

Ao final, Fernando Aith explica que o relatório possui a função de divulgar dados para que órgãos de checagem e controle, como o Tribunal de Contas e Ministério Público da União, identifiquem e punam eventualmente os responsáveis por ações de improbidade administrativa. No entanto, com a reforma na lei de improbidade, que só caracteriza essa atitude se houver dolo ou intenção, “muito provavelmente, agentes públicos sairão ilesos pelas barbaridades que cometeram”, complementa o professor.


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