Falta incentivo fiscal para estimular a bioeconomia da Amazônia

Paulo Feldmann lembra ainda da necessidade de profissionais de biotecnologia e mudança da lei para aumentar investimentos

 03/10/2019 - Publicado há 5 anos
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Quase todo o conhecimento que a biotecnologia e a genética vão precisar será extraído da flora e da fauna amazônicas. Isso significa que essa biodiversidade é a chave para o desenvolvimento de inúmeros produtos, de medicamentos a têxteis. O importante para o Brasil está não apenas em proteger a biodiversidade da região, mas, sim, em usufruir esse conhecimento. Para tanto, necessitamos de laboratórios farmacêuticos nacionais. Para ter indústrias, vamos precisar não apenas de investimento, mas também de recursos humanos qualificados. Há autores que apregoam que a biodiversidade representará, para o século 21, o mesmo que o petróleo foi para o século 20. “A produção de remédios e até de alguns alimentos no futuro será quase que totalmente feita a partir do conhecimento existente da biodiversidade”, afirma o professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, ao Jornal da USP no Ar.

Feldmann comenta que, mesmo hoje, quase metade dos remédios teve seus princípios ativos descobertos através de propriedades das plantas e dos animais. Um exemplo é o captopril, um dos remédios mais vendidos no mundo e que foi produzido a partir do veneno da cobra jararaca, espécie da Amazônia. No entanto, é um laboratório inglês que produz e que tem direitos sobre esse remédio. “O Brasil não ganha absolutamente nada com isso: o Brasil só compra o remédio desse laboratório. Nós temos que começar a mudar essa situação. O Brasil também tem que ter vantagens no conhecimento daquilo que se descobre da Amazônia.” Para isso, o professor comenta que há dois pontos fundamentais: investimento em pesquisa e formação de recursos humanos, como profissionais de biotecnologia.

A distância entre empresas e universidades é um problema que advém, inclusive, de questões legais. “Não temos quase nenhum incentivo fiscal, como isenções ou financiamentos especiais para empresas que investem em pesquisa. Você tem países como a Coreia do Sul em que tudo que é gasto pelas empresas para pesquisa pode ser abatido diretamente no imposto de renda. Isso é um grande incentivo, e por isso a Coreia tem tanta inovação”, afirma Feldmann. Essa ponte existe em muitos países desenvolvidos e é fundamental ao desenvolvimento. Nos Estados Unidos, por exemplo, é raro que a universidade, seja pública ou privada, não tenha apoio empresarial para fazer suas pesquisas. “Nós precisamos, sem dúvida, mudar a legislação para que haja uma aproximação maior entre empresas e pesquisas da universidade”, conclui.

Quanto à formação de recursos humanos, o professor comenta que a atual onda da tecnologia da informação, em que tudo gira em torno da informática, internet, computadores e telecomunicações, está no fim. “A grande ciência da segunda metade do século XXI será a biotecnologia, com tudo que está acoplado a ela, como genética, biodiversidade, farmacêutica e medicina”, afirma. Por isso, a formação de profissionais nessa área é imprescindível. Mas o número de biotecnólogos formados no Brasil, por exemplo, ainda é muito pequeno.

De acordo com Feldmann, uma tendência mundial muito grande é fundir os cursos de engenharia com os de medicina, formando aquilo que se chama de bioengenheiros. Isso é visto nos Estados Unidos, Israel e em alguns países europeus. “Não temos isso no Brasil, pelo contrário: os cursos de Engenharia e Medicina são cada vez mais especializados. A gente está bastante atrasado também nessa questão de formação de profissionais.”

Outro ponto levantado é a biopirataria, ou seja, a exploração e a utilização de recursos naturais de forma ilegal. De acordo  com Feldmann, hoje a Amazônia é muito frequentada por empresas estrangeiras que vêm justamente atrás de conhecimento. Ele complementa: “A biodiversidade representará para o século 21 o mesmo que o petróleo foi para o século 20. Mas o petróleo sempre rendeu benefícios para países onde estava. Nós precisamos ter benefícios, um aspecto que requer fiscalização na Amazônia”.


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