Montagem sobre foto: Marcos Santos/Jornal da USP
Milhares de passageiros se deslocam todos os dias no transporte sobre trilhos da cidade de São Paulo e de regiões metropolitanas. Esse fluxo de pessoas havia se reduzido com a pandemia, mas, com as medidas restritivas menos severas, está se normalizando. De acordo com dados do Metrô e da CPTM, no mês de outubro, foram realizadas 120 milhões de viagens, melhor resultado desde março de 2020.
A alta concentração de pessoas por metro de linha férrea colabora com a superlotação. Então, qualquer problema operacional em uma das linhas de trem ou Metrô pode atrasar tudo e sobrecarregar mais ainda esse sistema, ao lotar as demais linhas ou outros meios de locomoção.
Tainá Bittencourt, pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) da USP, explicou como estão classificados os principais transportes sobre trilhos, e que suas origens também são causas para a superlotação. “Os trens que não são subterrâneos são controlados pela CPTM e a estruturação dessa rede veio muito a partir do transporte de cargas. Então, não foi criada para atender a uma certa demanda atual ou prevista de passageiros, mas sim aproveitando os trilhos que já existiam na cidade de São Paulo.” Ela prossegue explicando que, no caso do Metrô — trens subterrâneos —, a construção foi planejada especialmente para atender aos passageiros. Porém, mesmo assim, o fluxo de pessoas é muito alto.
A pesquisadora ressaltou os motivos que podem ocasionar falhas na operação. Além dos problemas relacionados à tecnologia de resposta do centro de controle ou a variações no fluxo de passageiros, para ela, “o que influencia muito é a qualidade do trilho e a idade média dos veículos. Quanto maior a idade média dos veículos, maior a chance de ter problemas na operação”.
Impactos às diferentes classes sociais e a importância da democratização dos trilhos
Outro ponto que também foi destacado por Tainá é que o atraso no Metrô ou no trem pode afetar diferentemente cada grupo social. Para a pesquisadora, por causa da maior concentração da oferta de Metrô nas regiões centrais da cidade, o quintil mais rico da população tende a utilizá-lo mais. Como as linhas da CPTM estão mais distribuídas, agregando também mais regiões metropolitanas, há maior deslocamento de passageiros de classes baixa e média. Se há um atraso nos trens de superfície, essas classes tendem a se prejudicar mais, por exemplo.
Apesar de ser um transporte utilizado mais pela classe rica, a expansão do Metrô é importante para a descentralização desse modal de transporte e sua democratização. De acordo com o Plano Integrado de Transportes Urbanos (Pitu), de 2020, no mesmo ano houve um investimento de aproximadamente R$ 6 bilhões na implantação de linhas na região metropolitana de São Paulo.
Tainá explicou: “Um primeiro aspecto que precisa ser feito e que está em discussão agora é a expansão da cobertura dos sistemas sobre trilhos da cidade, justamente para diminuir um pouco dessas desigualdades de mais gente de uma determinada classe utilizando um determinado sistema de transporte do que outros”.
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