O parlamento britânico rejeitou nesta terça-feira o acordo para o Brexit proposto pela primeira-ministra Theresa May. Foram 432 votos contra e 202 a favor. Ela terá agora três dias para apresentar um plano B para que os parlamentares analisem. Logo após o anúncio do resultado, no entanto, o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, anunciou que seu partido irá apresentar uma moção de desconfiança contra a premiê, que deverá ser discutida na quarta-feira. A justificativa é que ela não conseguiu produzir um acordo aprovado pela maioria do Parlamento. Theresa já foi alvo de moção semelhante apresentada por seu próprio partido, o Conservador, em dezembro. Na ocasião, ela venceu a votação e foi mantida no cargo. O texto apresentado por ela havia sido aprovado pela União Europeia em novembro do ano passado. Segundo a premiê, o bloco descarta discutir os termos e não deve aceitar a discussão de um novo acordo. O Parlamento do Reino Unido, no Palácio de Westminster, em Londres, deve se reunir hoje (16) para debater a moção de censura ao governo apresentada pelo Partido Trabalhista. A reação ocorre no dia seguinte ao da rejeição do Brexit, o acordo que estabelece as condições de saída do Reino Unido da União Europeia (UE). No Reino Unido, cresce o movimento em favor da realização de um novo referendo para perguntar à sociedade britânica sobre o acordo para a saída da UE.
Em entrevista ao Jornal da USP No Ar, Kai Enno Lehmann, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, afirma que a derrota já era esperada, mas não com esse número de votos contrários à Theresa May. “Eu fiz uma previsão em torno de 100, o que já seria ruim. Mas foi a pior derrota do governo britânico no parlamento britânico em tempos modernos.” Segundo Lehmann, os motivos que levaram à falta de apoio para esse acordo têm a ver com a implementação das chamadas “linhas vermelhas”. “Ela queria, por um lado, uma relação comercial com a União Europeia muito próxima, basicamente como está. E, ao mesmo tempo, queria sair da UE e do mercado único. É incompatível, não dá. Gostaria de sair do mercado único e não criar uma fronteira dura na Irlanda. É possível ter só uma das duas coisas.” Assim, a proposta não agradava os apoiadores do Brexit nem aqueles que gostariam de permanecer no bloco econômico.
Theresa May, então, tem três dias para apresentar um plano B. Contudo, após o resultado da rejeição do acordo, o líder trabalhista Jeremy Corbyn disse que o partido apresentaria uma moção de voto de desconfiança sobre a premiê e assim o fez. Caso a moção seja aprovada, Theresa poderá renunciar. Na perspectiva do professor, isso não ocorrerá. “Até porque, os elementos mais extremos do Partido Conservador — que gostariam de ter um Brexit mais duro — já anunciaram que vão apoiar Theresa e o partido do qual ela depende nas votações, o Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte, também já indicou que os seus deputados vão votar com ela. Acho que ela ganhará, mas isso não muda o problema que ela enfrenta.” O especialista ainda afirma que acredita que o parlamento passará a comandar o processo de saída.
Se o Reino Unido sair sem nenhum acordo, Lehmann enxerga um cenário caótico para a economia e para a sociedade como um todo. “Será uma calamidade pública dentro de poucos dias. Por exemplo, no momento temos milhares de caminhões que passam pelo Porto de Dover vindos da França. Uma demora de um minuto de cada um desses caminhões levaria a um colapso. Não teríamos como garantir o fornecimento de alguns alimentos, remédios, entre outros. Seria uma calamidade. E o fato de falarmos isso em tempos de paz mostra como o processo está fora de controle.” A princípio, a data da saída do Reino Unida da União Europeia é 29 de março.