Nos últimos dias, manifestações populares vêm tomando as ruas da Bielorrússia. O motivo é o resultado das eleições, ocorridas no último dia 9, em que foi reeleito Aleksandr Lukashenko, conhecido como “o último ditador vivo” e que já está há 26 anos no poder do país. Os manifestantes apontam que o processo eleitoral foi fraudado, pedem a renúncia do líder e a realização de novas eleições. Para além das tensões nacionais — como aponta o professor Alberto do Amaral, da Faculdade de Direito (FD) da USP —, a crise da Bielorrússia “envolve um quadro geopolítico complexo”:
“A Bielorrússia enquadra-se entre os antigos Estados que compunham a União Soviética, porém, Lukashenko mantém relações estreitas com Moscou. Por outro lado, a União Europeia tem feito pressões para que novas eleições se realizem, com a possibilidade, inclusive, de efetuar sanções contra o governo da Bielorrússia pela acusação de fraude eleitoral”.
Desde o início dos atos populares, Lukashenko afirma que agentes externos agem para tirá-lo do governo e acusa a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a UE (União Europeia) de tentarem interferir na política do país. Reiterando tal tese, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaça enviar suas forças armadas à Bielorrússia para frear as manifestações. Por outro lado, os 27 países-membros da União Europeia vêm discutindo, por meio de videoconferências, a situação do país do leste europeu.
“O governo russo emprega uma ação vigorosa em relação às antigas repúblicas soviéticas, para ampliar a sua influência nestes governos e, quando possível, reintegrá-los à sua esfera de dominação, enquanto a União Europeia tem como princípio fundamental da sua atuação externa o direito de os povos escolherem livremente seu sistema político. Há, portanto, interesse de que se realizem eleições livres na Bielorússia”, analisa o especialista.
Apesar de toda a pressão que há sobre si, Lukashenko afirma que não haverá novas eleições no país até que ele seja morto. No entanto, afirmou, no último dia 17, que está disposto a realizar um referendo e, a partir do resultado deste, compartilhar o poder com outras lideranças. Sobre isso, Alberto do Amaral aponta que governos autoritários “gostam de adotar referendos” e que “normalmente esses referendos são manipulados e não refletem a vontade da sociedade”.
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