Doença assintomática é a principal causa de infertilidade masculina

A varicocele afeta 15% da população de homens e reforça a necessidade do acompanhamento médico constante

 16/08/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 29/10/2019 às 9:50
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A varicocele, por definição, são varizes iguais as que são conhecidas por se manifestarem nas pernas, porém na região do escroto, contou o urologista Jorge Hallak, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em entrevista, com participação de Ferraz Júnior, ao Jornal da USP no Ar.

Ele explica que as veias testiculares se conectam à veia renal e à veia cava. O fluxo do sangue é ascendente, ou seja, existe a gravidade contra seu favor. Por isso, as veias possuem em seu interior um sistema de válvulas que impedem que o sangue sofra refluxo. “Na varicocele esse sistema não funciona e ocorre o refluxo sanguíneo. Isso faz com que o sangue não circule adequadamente, levando a uma queda do nível de oxigênio nas células do testículo. Desta forma, há um aumento do “estresse ativo de oxigênio” que causa a lesão celular.”

Neste processo dois compartimentos do testículo são afetados. O de formação de espermatozoides, “que são chamadas células de Sertoli”. O outro compartimento afetado é o produtor de testosterona, “são as células de Leydig, e elas são mais resistentes que as de Sertoli”. A diferença de resistência entre as duas é o que justifica a varicocele muitas vezes proporcionar infertilidade nos homens. “Entre 30% e 45% dos homens terão uma disfunção espermática decorrente da varicocele.”

Além disso, a falta de oxigênio na região causa uma lesão anatômica. O urologista, que também coordena o Grupo de Estudos em Saúde Masculina do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, comenta que a médio/longo prazo pode se formar uma pequena fibrose na microcirculação testicular que impede a troca de oxigênio e substâncias nutritivas entre essas células.

A varicocele é assintomática e somente em casos agravados pode apresentar dor testicular. Por isso, raramente um médico é procurado, reforçando a importância do autoexame. “O homem poderia eventualmente avaliar sozinho a diferença de tamanho entre os testículos. Geralmente a varicocele afeta mais o lado esquerdo, mas também existe do lado direito.”

Por afetar a anatomia, geralmente ocorre uma intervenção cirúrgica. Porém Hallak explica que é uma cirurgia simples, com incisão pequena, e em no máximo 48 horas o indivíduo se recompõe. No entanto, ele reforça que não basta simplesmente detectar o problema e fazer a cirurgia de correção. “Ela precisa ser vista não de forma isolada, mas no contexto de saúde de modo geral. Se o indivíduo fuma, há uma formação enorme de radicais livres de oxigênio, isso se soma ao efeito da varicocele aumentando a lesão, por exemplo. Existem cofatores de risco, por isso a abordagem não pode se resumir à cirurgia.”

Uma mudança moderada de hábitos e estilo de vida já ajuda muito no contexto do indivíduo ter mais condições pessoais de combater os efeitos da varicocele. Além disso, existe um grande hiato no acompanhamento médico da vida comum de um homem. Geralmente ele passa pelo pediatra, na adolescência, e somente sente a obrigação de se examinar novamente quando precisa fazer o exame de próstata já na faixa dos 40 anos. A prevenção é imprescindível para uma doença que geralmente não apresenta grandes sintomas.


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