Covid-19 tende a manifestar-se de forma diversa em organismos infantis

Esse é um dos dados presentes num relatório que mostra como ocorrem as patologias dos quadros graves – muitas vezes fatais – de covid-19 em crianças

 22/06/2021 - Publicado há 3 anos
Brasil é um dos países que mais tiveram casos de covid sintomático em crianças – Foto: Pixabay

 

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Um relatório mostra como ocorrem as patologias dos quadros graves de covid-19 em crianças. Apesar de geralmente de maneira leve ou assintomática, casos pediátricos graves e fatais da doença estão sendo registrados. O estudo foi feito em cima de quadros fatais, buscando entender como o vírus desenvolve-se no organismo e sua reação a ele. 

“Imaginávamos que as crianças estariam isentas de riscos”, contou ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição o médico patologista Paulo Saldiva, professor titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina (FM) da USP. “Mas o Brasil é um dos países que mais tiveram casos de covid sintomático em criança”, ele complementa. Um dos responsáveis pelo estudo, o professor relata que os quadros infantis da doença manifestam-se diferentemente em organismos que não possuem comorbidades. Nesses casos, embora ainda exista o envolvimento pulmonar, o órgão mais afetado é, em sua maioria, o coração, seguido pelo cérebro e tubo digestivo. A presença do vírus nesses órgãos explica a manifestação da doença na forma de diarreia, convulsões e insuficiência cardíaca, dependendo do local onde o vírus está instalado. 

Paulo Saldiva – Foto: Reprodução/Fapesp

Esse tipo de resposta do organismo infantil, de acordo com Saldiva, está ligado à reação inflamatória que a criança monta contra aquele vírus, com o intuito de destruir o vírus presente naquele órgão, que também promove lesões nele. Em termos de tratamento, como forma de impedir o agravamento da manifestação viral, altas doses de imunossupressor seriam uma forma de impedir esse cenário. O professor compara a reação da covid no organismo com casos ocorridos em jovens de febre amarela silvestre durante o surto que ocorreu entre 2017 e 2018. A similaridade entre o agravamento da inflamação, que levava a óbito, gerava uma taxa de mortalidade de 70%. Ao introduzir tratamentos para combater a resposta inflamatória do organismo, houve uma substancial redução da mortalidade, que caiu para cerca de 30%. 

“Ele migra, ele tem uma chave que abre a porta da célula de vários órgãos”, diz o professor. “Nesses órgãos, uma vez instalado pela potência dos sistemas de combate a agentes infecciosos que a criança dispõe, ela acaba por somar a agressão do vírus” completa. A publicação do artigo descreve a síndrome inflamatória multissistêmica, tanto em sua forma clássica quanto a infantil, como forma de orientar profissionais da saúde para salvar ou tratar com o mínimo de sequelas casos similares aos estudados. 

 O Brasil ainda tem um problema em torno da capacitação de profissionais para lidar com essas situações. De acordo com Saldiva, a capacitação de profissionais da saúde no tratamento de casos críticos ficou em segundo plano, devido à necessidade de aumentar a capacidade de unidades de terapia intensiva e compra de equipamentos. O professor destaca iniciativas como a da USP, que, para remediar essa situação, cede treinamento de UTIs a distância, uma espécie de sala com prontuário eletrônico com um aprendizado em serviço supervisionado. Ele destaca que as unidades que adotaram esse programa tiveram quedas substanciais nas unidades de terapia intensiva.


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