A pandemia da covid-19 requer tomada de decisões em meio às incertezas, riscos e probabilidades geradas. Se sem pandemia os desafios para os governos já eram grandes, agora eles ganharam uma outra dimensão. O Jornal da USP no Ar conversou com Leonardo Gomes, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, que estuda a tomada de decisões de governos e empresas e faz uma análise em relação ao contexto da pandemia.
“Uma das primeiras coisas que temos que fazer é reconhecer o que sabemos ou não na pandemia”, resume Gomes. Primeiro se entende o que está acontecendo para compreender as lacunas que as incertezas geram. Em seguida, deve ser observado que estamos numa sociedade interdependente, em que as pessoas, empresas e governos (municipais, estaduais e federal) estão conectados. Apesar disso, o professor aponta que muitos atores da sociedade tendem a negar ou minimizar a realidade no início de uma crise. “Não é algo apenas de retórica, mas do próprio comportamento humano.”
Leonardo Gomes lembra que, quando surgiu o coronavírus na China, vários países, além do Brasil, caso da Itália e Espanha, subestimaram os efeitos da disseminação do vírus. Segundo ele, provavelmente isso ocorreu devido à dificuldade de entender como o sistema de saúde seria impactado e como seria o processo de espalhamento da doença. Para o professor, focar somente no espectro político para explicar essa situação não é a principal justificativa para a demora na tomada de decisões.
“Tomar decisões sob incertezas é muito diferente de tomar decisões sob riscos, porque parte das consequências é imprevisível”, explica Gomes. Para ele, mesmo que tomemos as melhores decisões, agora, não é garantia de que haverá melhores resultados. Ele cita o fato de que ficar adiando a tomada de decisões frente à pandemia teve um custo dramático para a Itália e a Espanha. Em situações como a que vivemos atualmente, é necessário agir antes mesmo de ter certeza da melhor estratégia para lidar com o problema.
Ainda de acordo com o professor, a dicotomia gerada entre escolher a saúde e a economia como prioridade não contribui para entender o problema que estamos enfrentando agora. Ele explica que é primordial considerar as crenças humanas, em que a vida possui valor maior que qualquer outro aspecto, não existindo produção e economia sem pessoas. “Um trauma gigantesco na sociedade pode afetar a economia por anos. Como no passado, nós podemos recuperar as economias e empresas, mas as vidas que forem perdidas não. Compreender o exemplo da Itália mostra que, quando há colapso na saúde, você leva ao colapso social e ao colapso na economia”, explica. Hoje, para contornar esses problemas, estamos nos adaptando a esse novo contexto. “Parte do mundo em que vivemos até agora talvez não existirá da mesma forma no futuro.”
Ouça a entrevista na íntegra no player acima.
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.