De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 40% dos brasileiros sofrem de algum distúrbio de sono. E a pandemia e suas consequências parecem piorar o quadro. Entre abril e maio, quando começavam as medidas mais rígidas de isolamento, a palavra “insônia” foi a mais procurada no Google. Já a pesquisa por “remédio para insônia” aumentou 130%. O professor Alan Luiz Eckeli, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, comenta como a insônia se relaciona com o surto de coronavírus:
“Ela [a associação] tem algumas fases. Na primeira, aqui no Brasil, de março a abril, existia um sentimento de angústia quanto à doença. Esse medo já pode ter sido suficiente para que os indivíduos suscetíveis apresentassem um quadro de insônia. Logo em sequência veio o confinamento e a expectativa de comprometimento financeiro. Você vai somando esses aspectos, isso pode ter feito parcela da população desenvolver insônia”.
A fim de definir as causas desse mal que atinge quase metade da população brasileira, o especialista em distúrbios do sono expõe o esquema dos três “Ps”, que contém o fator predisponente, o fator precipitante e o fator perpetuante. O primeiro deles é explicado pelo fato de que a insônia se manifestará em indivíduos que possuem predisposição a apresentá-la; o segundo “P” aponta para um momento específico de tensão que irá desencadear o início dos sintomas — a pandemia, inclusive, pode representar esse fator; e o último, uma série de pensamentos inadequados que perpetuam a insônia no quadro do paciente.
Há, no entanto, necessidade de diferenciar casos de insônia aguda e crônica. Enquanto no primeiro, as dificuldades com sono são pontuais, na insônia crônica há recorrência. Para ser classificada assim, o quadro deve se repetir três ou mais vezes na semana, há no mínimo três meses.
Quando as dificuldades com o sono se apresentarem com recorrência, Eckeli afirma que um médico deve ser consultado. Mas o especialista relembra que na maioria dos casos de insônia aguda algumas mudanças nos hábitos podem ser suficientes para reverter o quadro.
“A gente deve ir para a cama somente quando tiver sono, para evitar uma associação inadequada com a hora de dormir. A gente também deve ter uma rotina regular de sono, tanto na semana quanto no fim de semana. Além de estar em um lugar silencioso e com condição térmica agradável. Com algumas dessas dicas, deve haver melhora na qualidade de sono”, completa o professor.