A avaliação de projetos de pesquisa e dos seus resultados é o tema da coluna do físico Paulo Nussenzveig. “A ciência básica, aquela que é feita motivada apenas pela curiosidade de desvendar os segredos da natureza, depende fortemente de financiamento com recursos públicos”, afirma. “Em todos os países, especialmente em situações de crises econômicas, há cobranças da sociedade para conhecer os critérios que determinam aquelas pesquisas que serão financiadas.”
De acordo com o físico, no ano passado, o senador norte-americano Rand Paul, do partido Republicano, quis aprovar um projeto de lei obrigando todas as agências federais de fomento à pesquisa daquele país a constituírem comitês de julgamento das propostas contendo ao menos dois indivíduos que não fossem especialistas no tema de pesquisa. “O projeto do senador não foi adiante, para alívio dos pesquisadores norte-americanos. Avaliar projetos científicos é tarefa difícil mesmo para quem detém muito conhecimento especializado”, comenta. “Se fossem formados comitês como os sugeridos, na maioria dos casos, esses membros ‘extras’ seriam incapazes de compreender minimamente os objetivos e métodos das pesquisas, de avaliar seu potencial de sucesso e a importância do conhecimento a ser gerado.”
Apesar da proposta de Rand Paul ter sido rechaçada pela comunidade científica como uma cura inadequada, Nussenzveig observa que a física alemã Sabine Hossenfelder reconhece em seu blog que ele não erra tanto no diagnóstico. “Há problemas na maneira com que cientistas avaliam os projetos e os resultados de colegas. Sabine alerta que há muitos vieses determinando que pesquisas são apoiadas e que pesquisas ganham reconhecimento”, aponta. “A ciência é um empreendimento social, realizada por seres humanos, que estão sujeitos a efeitos positivos e negativos de suas interações em comunidades.”
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