Aumenta preocupação com consumo de alimentos ultraprocessados durante pandemia

Renata Bertazzi Levy comenta estudo do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, segundo o qual o consumo de ultraprocessados saltou de 9% para 16% na faixa etária dos 45 a 55 anos, durante a pandemia

 09/12/2020 - Publicado há 4 anos
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Os brasileiros estão consumindo mais alimentos ultraprocessados durante a pandemia. Conforme estudo realizado pelo Datafolha, sob encomenda do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, o consumo de ultraprocessados na faixa-etária dos 45 a 55 anos saltou de 9% em 2019 para 16% durante a pandemia, neste ano. Já o estudo NutriNet Brasil aponta que o consumo desse tipo de alimento aumentou nas regiões Norte e Nordeste e no estrato de menor escolaridade da pesquisa. 

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O consumo de alimentos ultraprocessados entre a faixa etária dos 45 a 55 anos é preocupante, porque é justamente nessas idades que há prevalência de sobrepeso e obesidade, que podem propiciar o surgimento de doenças crônicas e influenciar o grau de manifestação da covid-19 em caso de infecção, informa Renata Bertazzi Levy, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP e integrante do estudo NutriNet Brasil. “De 40 a 55 anos não é o grupo de maior risco, mas já tem um risco importante. Somado a isso a presença de obesidade e sobrepeso, eu diria que é um quadro preocupante. A obesidade é um dos fatores que podem agravar o quadro de covid-19.”

O aumento do consumo de alimentos ultraprocessados durante a pandemia pode estar ligado à praticidade de preparo, a busca pela sensação de prazer e até mesmo a alta exposição a propagandas que despertam o desejo por esse tipo de alimento, explica a pesquisadora: “Esse tipo de alimento não exige que você dedique nenhum tempo a cozinhar, você simplesmente consome. No meio de uma pandemia, é natural que esse tipo de alimento seja favorecido, porque as pessoas querem evitar fazer compras de tempo em tempo. Eles também dão muito prazer, são quase viciantes e são os alimentos mais veiculados nas propagandas. Na pandemia aumentamos o tempo de tela, justo  onde esses alimentos aparecem”.

A pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor aponta que 51% das pessoas que estudaram só até o ensino fundamental consumiram algum tipo de produto ultraprocessado. E o estudo NutriNet Brasil, desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP), verificou que o consumo desse tipo de alimento aumentou nas regiões Norte e Nordeste e no estrato com menor escolaridade da pesquisa. “No NutriNet Brasil, identificamos um aumento de frutas, verduras e hortaliças na população como um todo e um aumento de ultraprocessados na população das regiões Norte, Nordeste e no menor estrato de educação da nossa amostra. As menores faixas de renda ou de escolaridade têm um risco maior ou um aumento maior do consumo desses alimentos que fazem mal para a saúde”, informa Renata.

O estudo NutriNet Brasil pretende avaliar a alimentação e a saúde de 200 mil brasileiros, de todas as regiões, por dez anos. O objetivo é mapear as características de alimentação que aumentam ou reduzem a incidência de doenças crônicas. Para ser voluntário, basta acessar o site.

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