O armazenamento total de água nos mananciais da Região Metropolitana de São Paulo encerrou o mês de fevereiro com 57,1% de sua capacidade. Em fevereiro do ano passado, esse volume estava em 75,1%. No mesmo mês, o principal sistema de abastecimento da Grande São Paulo, o Cantareira, apresentou nível igual a 48,3%, contra os 59,5% do ano passado. A redução do volume de chuvas anuncia um período de estiagem maior e o prognóstico climático até o final do ano preocupa.
O professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE- USP), Pedro Luiz Côrtes, explica ao Jornal da USP No Ar 1ª Edição que as chuvas de março tendem a ser menos volumosas quanto às de janeiro e fevereiro, sendo que a próxima recarga será só no início do outono, porém, menor do que seria necessário. “Há locais onde chove muito, com enchentes e inundações, enquanto que em outros locais da região metropolitana nós temos um ambiente seco, o que foi muito prejudicial para a recarga dos mananciais”, detalha Côrtes, ressaltando que a redução de chuvas na região Sul do Brasil causou severa estiagem no Rio Grande do Sul, no Paraná e em algumas regiões de Santa Catarina, repercutindo no clima da Grande São Paulo.
Os fenômenos El Niño e La Niña podem ter influência no Sudeste brasileiro, dependendo de sua intensidade, segundo o professor. “Há estudos já publicados que mostram que nós podemos sofrer ainda essas consequências e isso acabou acontecendo, porque a mesma estiagem que ocorreu no Sul também se fez presente aqui, na Região Metropolitana de SP, com uma má distribuição de chuvas”, conta, apontando o fim do La Niña até maio, quando entramos na chamada fase neutra, transição entre La Niña e El Niño. A má notícia é que é muito provável que o El Niño volte em setembro, então mesmo uma recarga mais intensa dos mananciais no segundo semestre não será tão intensa quanto desejada.
Após a crise hídrica de 2014 a 2016 no Estado de São Paulo, oficialmente reconhecida, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) administra de forma diferente o sistema Cantareira, reduzindo o volume captado e dando mais chances de sucesso no enfrentamento de possíveis crises. Cortês alerta para o fato de que a crise hídrica de 2014 já se anunciava em 2012, “então essas crises não acontecem abruptamente, elas vão se anunciando com a redução do volume de chuvas e do nível de mananciais importante, até que chega o momento quando percebemos que o cenário não é favorável e que realmente nós partiremos para um tipo de restrição maior na distribuição”, conclui.
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