O lançamento do clipe Me Solta, do Nego do Borel, levantou uma discussão a respeito da apropriação da pauta LGBT para a movimentação da indústria midiática e geração de lucros. O movimento LGBT tem ganhado voz em diversos âmbitos da sociedade, o que leva algumas marcas e artistas a utilizarem essa parcela da população para a autopromoção. O lucro com esse ato carrega o nome de pink money, ou dinheiro rosa, em tradução livre.
O pesquisador em diversidade no ambiente de trabalho e na comunicação de empresas e conferencista em disciplinas do curso de Relações Públicas, Ricardo Sales, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, conversou com a Rádio USP sobre o termo que ganhou destaque na mídia e redes sociais, e sobre a utilização oportunista da pauta LGBT para a arrecadação financeira de artistas e marcas.
O termo surgiu a partir da pressuposição de que homossexuais, no primeiro momento, eram dotados de maior poder aquisitivo, afirmação que incentivou revistas, agências de viagem e casas noturnas, por exemplo, a incluírem o discurso de diversidade na produção publicitária, visando à atração desse público para geração de lucro. Entretanto, hoje essa afirmação não pode ser vista como fidedigna, já que é sabido que não são todos os LGBTs que possuem um padrão de consumo alto.
As iniciativas de inclusão feitas por marcas e empresas podem ser bem vistas, já que o consumo ocupa um papel privilegiado na sociedade. Contudo, é necessário que a inclusão não se restrinja à questão econômica e que não se aproprie da luta. “As causas e as ideias não são das marcas. O que as marcas podem fazer é a ampliação dos debates e dar voz às pessoas”, comenta Sales.
Para ele, é necessário uma coerência entre discurso e prática para que a inclusão das pautas identitárias seja feita de forma correta. Artistas e marcas são bem-vindos a dar voz às reivindicações dessa comunidade, contudo, a coerência é necessária. “Não basta fazer uma música e não basta beijar alguém do mesmo gênero no videoclipe, achando que com isso está necessariamente fazendo sua parte na promoção do debate para uma sociedade mais inclusiva.” O especialista afirma que os grupos, iniciativas ou candidatos que o artista valoriza devem ser levados em consideração.
A representatividade positiva, que contrarie estereótipos e vá além de representações fáceis, é saudável e necessária, contudo, o pesquisador afirma que isso não basta. É importante uma discussão no campo político no que tange à representação da comunidade no mercado de trabalho, sobre o amparo legal e sobre o ciclo de exclusões que prejudica, sobretudo, pessoas transexuais.
Ouça a entrevista completa no player acima.