O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, em negociação há quase 20 anos, mas já na reta final, ganhou um novo impulso após as declarações da equipe do presidente eleito de que o bloco sul-americano não será prioridade no novo governo. A intenção, segundo o presidente da delegação do Parlamento Europeu para as relações com o Mercosul, o deputado Francisco Assis, é tentar fechar algum tipo de entendimento comercial ainda durante o governo Temer.
A questão levantada é sobre a importância de um possível acordo bilateral ainda não muito definido, mas relevante, antes da troca de gestão. E se seria útil, já que o próximo governante sinaliza com um novo tom de conversa dos blocos. No entanto, não se pode ignorar o processo de negociação e o que representam esses mercados para a economia brasileira. O Jornal da USP no Ar conversou com o Professor Paulo Borba Casella, do Departamento de Direito Internacional da Faculdade de Direito (FD) da USP e coordenador do Grupo de Estudos doo Brics. Segundo ele, um acordo agora teria um caráter não tão efetivo, mas necessário demais para ser deixado de lado. “A relação do Brasil com a União Europeia, ou do Mercosul como bloco com ela, é importante demais para ficar sujeita a uma guinada de mudanças de um partido no governo em um determinado momento.”
Um viés de negociação procurado é com os Estados Unidos. Porém, o país não demonstrou ao longo de outros governos, e de maneira mais firme com Donald Trump, uma vontade de incrementar os vínculos com a América Latina como um todo. De tal maneira, há um risco em priorizar essa vertente em detrimento da União Europeia, já que os EUA não aparentam desejo de solidificar tratos com o Brasil e o bloco do Mercosul.
Outro fato analisado pelo professor é a sondada mudança da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, que representa uma baixa nas relações brasileiras com o Oriente Médio. Curiosamente, essas parcerias foram criadas e tidas como fundamentais pelos governos militares.