Mayana Zatz e a ciência na fronteira do conhecimento

Por Mateus Vidigal, pós-doutorando no Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco da USP

 Publicado: 15/07/2024
Mayana Zatz – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

 

Mateus Vidigal – Foto: Arquivo pessoal
Uma cientista que transcende os limites da genética, transforma vidas e inspira gerações. Seu trabalho incansável e sua paixão pela ciência a tornaram uma das cientistas brasileiras mais conhecidas e respeitadas do mundo.

Nascida em Tel Aviv, Israel, em 16 de julho de 1947, Mayana Zatz mudou-se ainda criança para a França e, posteriormente, em 1955, para o Brasil. Desde cedo, demonstrou um interesse profundo pela biologia. Ingressou na Universidade de São Paulo (USP) logo após concluir o ensino médio, graduando-se em Ciências Biológicas, em 1968. Assim, deu início à sua carreira acadêmica, dedicando-se ao estudo das doenças neuromusculares, como a distrofia muscular de Duchenne. Em 1969, iniciou um trabalho de aconselhamento genético para famílias afetadas por essas condições, demonstrando desde então seu compromisso com a saúde e o bem-estar dos pacientes. Na USP, sob a orientação do professor Oswaldo Frota-Pessoa, obteve os títulos de mestre em 1970 e doutora em 1974, ambos em Genética. Seu pós-doutorado na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, marcou uma etapa importante em sua formação, preparando-a para os desafios que enfrentaria ao retornar ao Brasil.

Ao voltar ao Brasil, Mayana encontrou um cenário desolador: a falta de tratamentos adequados para doenças neuromusculares. Determinada a fazer a diferença, fundou a Associação Brasileira de Distrofia Muscular (1981). Sua dedicação incansável à causa ajudou a transformar a vida de milhares de pessoas, proporcionando esperança e novas abordagens terapêuticas que antes eram inimagináveis.

Aqui, faço a primeira reflexão do verdadeiro papel do(a) cientista na sociedade contemporânea: um(a) cientista não é apenas um(a) investigador(a) em busca de conhecimento, mas também um(a) agente de mudança social. Mayana exemplifica essa dualidade ao equilibrar a pesquisa científica de ponta com um profundo compromisso com a aplicação prática de suas descobertas para melhorar a vida das pessoas. Em 1995, foi uma das pioneiras a localizar um dos genes ligados a um tipo de distrofia e participou do mapeamento do gene responsável pela síndrome de Knobloch.

Sua entrada na Academia Brasileira de Ciências, em 1996, foi um reconhecimento merecido por suas contribuições inestimáveis à ciência. Além de suas realizações científicas, Mayana teve um papel importante na política científica e na ética, sendo uma voz ativa na aprovação da pesquisa com células-tronco embrionárias humanas, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, em 2008. Aqui, faço a segunda reflexão importante: o papel do cientista na política em defesa do avanço científico. Mayana exemplifica como os(as) cientistas devem engajar-se não apenas no avanço do conhecimento, mas também na aplicação responsável e ética desse conhecimento.

Mayana também é mãe e avó. “A ciência e a vida cotidiana não podem – e não devem – ser separadas”, disse Rosalind Franklin, a “mãe” do DNA. Essa frase reflete a trajetória de Mayana, que demonstra diariamente como a ciência está intrinsecamente ligada à vida real, às experiências humanas – e aos “experimentos”. É possível ser um cientista de renome sem abrir mão dos valores familiares e das responsabilidades pessoais.

“O tempo não para” e não a parou. Atualmente, Mayana é diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco do Instituto de Biociências da USP, supervisora de pós-doutorados e orientadora de doutorandos. Idealizadora de grandes projetos – sempre criativa, visionária e entusiasmada. “Maravilhar-se é o primeiro passo para um descobrimento”, segundo Louis Pasteur.

Recordo quando Mayana me disse: “Temos desafios importantes pela frente, mas é muito estimulante estar em pesquisas na fronteira do conhecimento. Vamos tentar contribuir no melhor da nossa capacidade”. E ao entregar o melhor de sua capacidade de acordo com seus princípios como profissional especialista na área – ética, cientificidade, agilidade, eficiência, empatia e assistência –, celebramos Mayana!

________________
(As opiniões expressas nos artigos publicados no Jornal da USP são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem opiniões do veículo nem posições institucionais da Universidade de São Paulo. Acesse aqui nossos parâmetros editoriais para artigos de opinião.)


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.