A Ásia hoje é o centro da produção de manufaturados do mundo. Várias razões explicam esse fato, mas uma das mais importantes é que, há muitos anos, os países asiáticos criaram um bloco de comércio interno chamado Apec e graças, inicialmente, às trocas internas entre eles, foi possível aperfeiçoar a produção manufatureira até se tornarem líderes da produção industrial do mundo.
A lição é que blocos comerciais para realização de exportações/importações entre países da mesma região têm uma enorme importância no desenvolvimento econômico dos respectivos países. Eles existem em todos os continentes — além da Apec, podemos mencionar o Nafta (América do Norte), a União Europeia e vários outros. No nosso caso, temos o Mercosul, cujos principais países são Brasil e Argentina.
Infelizmente o Mercosul, apesar de existir há quase 32 anos, é considerado um dos blocos mais fracos, quando se considera o total dos valores negociados dentro do bloco em relação ao PIB dos respectivos países. Blocos fortes como os anteriormente mencionados são muito importantes: eles inicialmente servem como uma espécie de treinamento para os países participantes, pois as nações, ao vender/comprar de seus vizinhos, acabam se capacitando nos meandros do comércio exterior e, na sequência, acabam se transformando em exportadores para o mundo todo.
Se queremos que a América do Sul cresça e se desenvolva, é fundamental que se estimule o comércio interno dentro da região. Por isso, a proposta de uma moeda comum é, sim, muito bem-vinda. A moeda comum vai agilizar as transações ao eliminar burocracias e tornar o dólar desnecessário. Nestes últimos dias, assistimos a uma discussão importante sobre a implantação do sur – nome da futura moeda. Antes de mais nada, é importante deixar claro que ela não será uma moeda física como é, por exemplo, o euro usado sobretudo dentro da Europa. Isso só aconteceria se, um dia, esta moeda comum fosse transformada em moeda única como é o euro hoje. Por ora, o sur será algo que apenas vai existir contabilmente (no fundo será uma simples tabela de conversão), mas tornará muito mais fácil a vida dos países que contam com pouca disponibilidade de dólares — o que, aliás, é um problema da maioria dos nossos vizinhos.
Infelizmente os dirigentes e governantes brasileiros têm dado pouca relevância para o Mercosul, o que acaba sendo a razão principal para o pequeno volume negociado pelo bloco. Como o Brasil é o maior país da região, seria natural que ele fosse o líder do bloco, mas nosso País parece não querer assumir este papel. No governo anterior aconteceu, pela primeira vez nos 32 anos de Mercosul, o fato inusitado de o presidente brasileiro não ter comparecido às reuniões de chefes de Estado do bloco. Esse pouco caso brasileiro chega a ser incoerente, pois é apenas para nossos vizinhos que conseguimos exportar produtos industriais. Ou seja, para o mundo todo, somos unicamente exportadores de produtos primários como soja, café, carne, minério de ferro etc. É no Mercosul que nos destacamos como vendedores de veículos, máquinas, plásticos, papel e outros manufaturados. Só por isso deveríamos dar muito mais atenção à nossa região, mas não é o que acontece.
Em suma, a moeda única e o apoio ao Mercosul são importantes, mas não são suficientes para tornar nossa região mais desenvolvida como um todo. Outras medidas se fazem necessárias, entre elas a necessidade de fortalecer a indústria de manufatura nos países onde ela já apresenta um bom potencial, como Brasil, Argentina e Colômbia. Sem inovação, nada importante poderá acontecer. Os países do bloco precisam se unir e combinar medidas e investimentos conjuntos em Ciência e Tecnologia e, claro, como sempre, os gastos com Educação são os mais importantes. Aliás, neste quesito, nos últimos 35 anos, Japão, China e Coreia do Sul não mediram esforços, o que também foi decisivo para o sucesso desses países.
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