Entrada de Kamala Harris na corrida eleitoral americana desequilibrou campanha de Trump

A diferença de posições entre os candidatos são enormes e a IA, o meio ambiente e a ciência são alguns dos principais pontos de discórdia

 Publicado: 30/07/2024

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Na coluna desta semana, o professor Glauco Arbix comenta sobre como o quadro político americano foi afetado com a saída de Joe Biden.

O presidente Joe Biden, ao abandonar a disputa pela sua reeleição, lá nos Estados Unidos, passou o bastão para a vice-presidente, Kamala Harris, que agora tem a responsabilidade de derrotar Donald Trump. A entrada da vice-presidente na corrida eleitoral modificou totalmente o quadro político, desequilibrou a campanha de Trump que estava voltada para atacar Biden, reunificou democratas e galvanizou as intenções do mundo todo, abrindo um período de intensa mobilização impulsionada pela juventude americana. Os termos de um debate hoje são outros e as diferenças gigantescas entre os candidatos aparece na discussão sobre imigrantes, raça, impostos, economia, empregos, direito ao aborto legal, relações com Putin, defesa da guerra da Ucrânia, conflito no Oriente Médio e a relação com os emergentes.

Na ciência e na tecnologia não poderia ser diferente, a começar pela inteligência artificial que viu nascer com Biden uma preocupação, o surgimento de pressões muito fortes pela sua regulamentação via agências e até mesmo um decreto de Biden muito ambicioso que procura colocar fronteiras na atuação das chamadas big techs. Trump que pouco ou nada fez durante seu mandato para regulamentar a IA, defende hoje – quando defende – uma regulamentação muito leve, enquanto Kamala vê como necessária a supervisão do poder público sobre a inteligência artificial e propõe que o Congresso aprove medidas de proteção da privacidade sobre segurança cibernética, sobre as criptomoedas e os direitos da população.

No governo Biden e Kamala foram alocados volumes enormes de recursos para construção de infraestrutura digital, em especial nas comunidades mais pobres, o que mostrou uma atuação mais incisiva do Estado na digitalização da economia. Diferentemente de Kamala, Trump e seus aliados ao redor do mundo, inclusive aqui no Brasil, não se cansam de atacar as universidades e minar a credibilidade da ciência, a começar pelas ações o setor público para diminuir os impactos das mudanças do clima, a degradação do meio ambiente e honrar os acordos internacionais. Trump saiu fora de vários, despreza as instituições internacionais, e Biden na verdade recolocou e reposicionou os Estados Unidos nessa atividade intensa contra as mudanças do clima em defesa do meio ambiente no mundo todo. 

No apoio à pesquisa, as diferenças de Trump são enormes. A começar pelos ataques constantes do ex-presidente contra a influência, a independência dos cientistas, valores defendidos por Kamala, que honra a educação que recebeu da sua mãe que foi médica e cientista. Se eleita, é bem provável que Kamala continue aprofundando as políticas progressistas de Biden.

As pessoas mudam quando ganham o poder, mas a história conta e as propostas contam em um mundo que se transforma rapidamente. Enxergar as diferenças que separam Trump e Kamala ajudam a gente a compreender a ciência e a tecnologia como essenciais, para enfrentar os enormes desafios que a humanidade enfrenta hoje. 


Observatório da Inovação
A coluna Observatório da Inovação, com o professor Glauco Arbix, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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