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Na coluna desta semana, o professor Renato Janine Ribeiro conta que, no último dia 12, aconteceu o encerramento da 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorreu na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, entidade que ele preside há três anos. O evento teve como tema Ciência para um desenvolvimento sustentável inclusivo, e, como subtítulo, Por um novo contrato social entre o ser humano e a natureza.

“Nossa ideia é que existe um paradigma de relação homem/natureza que passa pelo desmantelamento dela, um caráter predatório que ele tem. Basta ver que a ciência moderna surge declarando ‘que ela nos permitirá sermos senhores e donos da natureza’. Frases desse tipo se encontram tanto no grande racionalista que foi René Descartes quanto, um pouco anterior a ele, o grande empirista que foi Francis Bacon, portanto dos dois lados do Canal da Mancha – um francês e outro inglês.

Renato Janine explica que, a partir disso, vai se construir toda uma cultura pela qual o conhecimento avançado da ciência visa a dominar a natureza. “O ser humano, talvez porque foi criado por Deus com essa finalidade – assim eles acreditavam – poderia explorar a natureza à vontade. A ciência vai procurar obter o máximo de ganhos disso, mas a preocupação ambiental e sustentável estará bastante ausente. O que temos é que 200 anos depois, praticamente na metade do século 18, um grande filósofo, Jean-Jacques Rousseau, vai propor que a característica básica da humanidade – humanidade como qualidade – seria compaixão, a capacidade de sentir com qualquer ser vivo que sinta uma dor, que sofra uma violência”, acrescentando que ser vivo não é apenas ser humano, inclui também animais, talvez até vegetais. No entanto, essa ideia de compaixão rompe com o modelo que tinha sido definido 200 anos antes, mas, segundo o professor, ainda vai demorar muito até emplacar.

“Por isso, propusemos na reunião anual um novo contrato social com a natureza, ou seja, uma forma pela qual a coletividade dos seres humanos, não cada um de nós, mas nós enquanto sociedade, enquanto coletivo, nos comprometamos a não devastar a natureza, a não fazer dela um alvo simplesmente dos nossos comportamentos predatórios, mas a entender como  parceira, como condição para nossa vida”, finaliza.