Redução da mortalidade infantil é histórica no mundo, mas poderia ser maior segundo especialista

A maioria das mortes na infância é por causas evitáveis, que podem ser combatidas com investimentos em saúde pública, especialmente na atenção primária, diz o professor Alexandra Archanjo Ferraro da Faculdade de Medicina da USP

 29/04/2024 - Publicado há 2 meses     Atualizado: 04/06/2024 as 11:28
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Cuidar da saúde começa antes mesmo do pré-natal, tem início nas decisões governamentais na saúde pública – Arte: Moisés Dorado
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A mortalidade infantil, na faixa dos zero a cinco anos completos, atingiu a marca mínima em 2022. Foram cerca de 4,9 milhões de óbitos registrados no mundo. No Brasil, a queda desde os anos 2000 chegou a 60%. Os dados foram divulgados pelo Grupo Interinstitucional das Nações Unidas para Estimativa da Mortalidade Infantil (UNIGME). Em 2023 a taxa de mortalidade infantil foi de 20,3 mortes a cada mil crianças nascidas, enquanto em 1996 esses números eram mais que o dobro, cerca de 53,1 a cada mil crianças.

Para os especialistas essa queda poderia ser maior, como explica o pediatra Alexandre Archanjo Ferraro, professor da Faculdade de Medicina (FM) da USP. “Nos primeiros anos de vida o ser humano é totalmente dependente do ambiente em que está se desenvolvendo e as causas que podem levá-lo à morte, muitas vezes, são evitáveis, como pneumonia, parto prematuro, por exemplo.” 

O pediatra diz que, dependendo das condições socioeconômicas, de acesso à saúde, nutrição, saneamento básico, imunização, essa criança será ajudada ou não a sobreviver nessa fase. Afirma que o período em que mais se morre em todo ciclo de vital é no primeiro ano de vida, mais especificamente na primeira semana de vida. “Então as causas dessa queda estão diretamente ligadas aos investimentos que aconteceram nos últimos anos na atenção primária, como, por exemplo, na estratégia de saúde da família ou na ampliação do programa de agentes comunitários.” 

Para o pediatra o cuidar da saúde começa antes mesmo do pré-natal, com as decisões governamentais em saúde pública. “A mortalidade infantil é o marcador da saúde de toda a população e os nossos governantes, assim como em várias partes do mundo, não se dão conta das implicações demográficas e de gigantesco impacto econômico dessas mortes para a sociedade.”

Sobre os impactos econômicos o professor diz, ainda, que a população do Brasil já começou a decrescer, antes de alcançar o nível de desenvolvimento econômico adequado. Com menos pessoas, menor será a produtividade, por isso, o cuidado com a saúde deve começar já no preparo das adolescentes que virão a enfrentar uma gestação nos anos seguintes. Resumindo, o professor enfatiza que o impacto econômico da saúde infantil tem início antes mesmo do nascimento. 

Outro fator que contribuiu para essa queda na mortalidade infantil, segundo Ferraro, foi o emprego da tecnologia na área da saúde, mas não como geralmente se pensa. “Tem mais a ver com soft technology, uma tecnologia mais suave e metodologias desenvolvidas, além do investimento na formação de profissionais.” 

Como exemplo ele cita países do sudeste asiático, onde houve uma queda enorme da mortalidade infantil. Em alguns países, daquela região, foram instituídos programas em que pessoas leigas passaram a pertencer às equipes de saúde e a fazer visitas para acompanhar, exclusivamente, gestantes e crianças durante o primeiro ano de vida. “Portanto, não é tanto a construção de UTI Neonatal que impacta enormemente na mortalidade infantil. Uma vez que uma gestação ocorre bem, deixa de acontecer partos prematuros e a criança, que precisaria de uma UTI muito sofisticada para sobreviver, deixa de nascer antes do tempo.”  

Outro fator que, para o professor, foi fundamental na redução histórica da mortalidade infantil foi a cobertura vacinal. “Com pessoas vacinadas conseguimos quebrar a corrente de transmissão das doenças. Por isso, precisamos investir em esclarecimentos sobre vacinação, seus riscos mínimos e seus enormes ganhos”, finaliza

*Estagiária sob a supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone


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