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Renato Janine Ribeiro volta ao tema já abordado em sua coluna anterior, a respeito da miséria e da pobreza e do impacto que essas condições causam quando se tornam visíveis, sobretudo em contraste com seu oposto, ou seja, com a riqueza e o luxo ostentados pelas parcelas mais abastadas da população. “Chega um certo momento em que as pessoas se olham, não estão mais separadas por bairros totalmente afastados – é o caso das favelas, especialmente no Rio de Janeiro, onde elas têm uma vista maravilhosa, uma paisagem incrível do alto dos morros, mas, ao mesmo tempo, têm miséria, fome,  morte, tudo mais, e estão ao lado dos bairros ricos, que muitas vezes elas abasteceram com a mão de obra menos qualificada e até mesmo qualificada”.

Na opinião do colunista, essa visibilidade recíproca da miséria e do luxo traz um grande problema, porque as pessoas que vivem bem ficam chocadas ao percorrerem as ruas, as praças das cidades grandes e se depararem com gente morando acampada e em condições extremamente precárias, uma visão que pode ser assustadora para quem tem uma vida melhor. “Por outro lado, para quem tem uma vida miserável, o espetáculo do luxo também é muito agressivo […] então, esse é um problema muito grande, que acaba trazendo à tona conflitos sociais. Ele não cria conflitos sociais, os conflitos já existem, estão abafados, porém, no momento em que toda essa miséria se defronta com todo esse luxo, passamos a ter um problema grande”.

Ele cita o bairro do Morumbi, aqui em São Paulo, como um exemplo dessa distorção. Durante muitos anos símbolo da riqueza em São Paulo, o Morumbi hoje está coalhado de favelas. “O Morumbi certamente não é mais o bairro mais rico de São Paulo, mas continua tendo bolsões de riqueza e bolsões de miséria, bolsões de excesso nos dois lados. Uma foto famosa, que circula bastante, mostra uma paisagem de lá em que nós temos a divisa entre um prédio de imóveis ricos e uma favela. Então, esse choque é algo que passa a ter uma importância muito grande, inclusive política”. Para o colunista, que certa vez publicou um artigo a respeito do caso real do assassinato de um menino por outro por causa de um tênis, “essas são questões éticas muito fortes e respondem muito pelas crises políticas que a gente vive nos países mais pobres e as vezes até nos mais ricos”.