USP Filarmônica apresenta compositores negros e repertório contemporâneo inédito

Após o concerto, na próxima terça-feira (28/11), às 20h, no Theatro Pedro II, o maestro Rubens Russomanno Ricciardi lança o seu novo livro, em noite de autógrafos, no Auditório Meira Júnior

 24/11/2023 - Publicado há 1 ano
A orquestra será regida pelo maestro Rubens Russomanno Ricciardi, tendo como solistas Chiara Santoro (soprano) e Denise de Freitas (mezzo-soprano) – Foto: André Estevão

Para o mês de novembro, o 185° concerto da USP Filarmônica traz ao palco do Theatro Pedro II um repertório especial com compositores negros e obras contemporâneas inéditas, compostas de compositores da USP de Ribeirão Preto. A apresentação acontece na próxima terça-feira (28/11), a partir das 20h, aberta ao público e gratuita, no Theatro Pedro II, Quarteirão Paulista, Rua Álvares Cabral, nº 370, Ribeirão Preto.

A USP Filarmônica se apresenta também com o mesmo programa na quarta-feira, dia 29 de novembro, às 20h, na Catedral de São Carlos, na Praça Dom Marcondes Homem de Mello, s/nº – no Centro de São Carlos.

Nas duas apresentações, a orquestra será regida pelo maestro Rubens Russomanno Ricciardi, com as solistas Chiara Santoro (soprano) e Denise de Freitas (mezzo-soprano). No repertório dos compositores negros brasileiros, temos a abertura Sinfonia Fúnebre (1790), de José Maurício Nunes Garcia, o lundum Os beijos de frade (1856), de Henrique Alves de Mesquita e a canção romântica A noite do meu bem (1950), de Dolores Duran. Já do repertório contemporâneo de compositores da USP de Ribeirão Preto, constam Lamento (1956), de Gilberto Mendes, Trauert, oh Venus und Cupido (2019) e Agora que sinto amor (versão 2023), de Rubens Russomanno Ricciardi, Já da morte o palor me cobre o rosto (2019), de Lucas Pigari, Cantiga a Portinari (2022), de Lucas Eduardo da Silva Galon, Chave de Ferrugem (versão 2023), de José Gustavo Julião de Camargo e Pus o meu sonho num navio, de Silvia Maria Pires Cabrera Berg (versão 2023).

Chiara Santoro é solista convidada do evento – Foto: Divulgação

Esse concerto faz parte da série mensal de Concertos USP, uma realização do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, com apoio da Reitoria da USP e em conjunto com a Fundação Dom Pedro II e Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto.

Lançamento do livro Contra o Identitarismo Neoliberal – Um Ensaio de Poíesis Crítica pela Apologia das Artes

Logo após o concerto no Theatro Pedro II em Ribeirão Preto, às 21h, no Auditório Meira Júnior, o maestro Rubens Russomano Ricciardi lança o seu livro Contra o Identitarismo Neoliberal – Um Ensaio de Poíesis Crítica pela Apologia das Artes, pela Editora Contracorrente.

Rubens Russomano Ricciardi – Foto: IEA/USP

O livro é um ensaio de poíesis crítica pela apologia das artes. Trata-se, na filosofia das artes, de uma nova epistemologia voltada às questões da linguagem e da ideologia – ao mesmo tempo hermenêutica e dialética, existencial e crítica. Se, em Marx e Engels, há uma práxis crítica e, na Escola de Frankfurt, uma theoría crítica, com a poíesis crítica pretende-se preencher a lacuna do esquecimento da poíesis e solucionar a confusão entre práxis e poíesis. Definindo a elaboração da obra de linguagem enquanto processo crítico-inventivo, a poíesis não é teórica nem prática. Para a poíesis crítica importa o logos poético, prosseguindo não apenas os trabalhos iniciados por Heidegger, mas também desde Heráclito e Aristóteles. Com a poíesis crítica se evidencia o abismo que há hoje entre as artes e a indústria da cultura. Os estudos abrangem também as diferenças entre linguagem e comunicação; entre obra de arte e kitsch.

Entre outras questões contemporâneas, propõe-se uma discussão acerca do eurocentrismo e da decolonialidade – ambas ideologias neoliberais da cultura que têm gerado uma aversão às artes e em especial à música. O que deveria ser compreendido por conta dos desdobramentos históricos de milênios – desde os tempos dos odeões e teatros greco-romanos – foi agora estigmatizado com o rótulo antipático da tal música clássica erudita europeia, deturpando a essência da arte do som no tempo. Entretanto, o clássico não se opõe ao popular, mas sim à condição experimental ou ainda não consagrada das artes – e estas não são prerrogativas europeias – bem como a mera erudição não é suficiente para a constituição da poíesis.

Tanto o culturalismo quanto a sua configuração mais sectária, o identitarismo, ambos hostis às artes, são definidos aqui por conta das suas implicações neoliberais. Com a censura identitária redutiva ao domínio cultural europeu, ignora-se a influência maior dos EUA – não obstante a invasão, em toda parte, da sua indústria da cultura. Se, por um lado, os identitários neoliberais são agressivamente antagônicos às artes milenares, por outro, na sua idolatria pseudo-intelectual, só recortam da realidade os clichês da indústria da cultura estadunidense. Até mesmo as nossas periferias, invadidas culturalmente e assim reduzidas a pseudoperiferias, espelham as vozes dos grandes centros do capital.

O autor questiona ainda os preconceitos suscitados pela moral identitária, quando se esquece não só a poíesis, mas também a acumulação do capital e a luta de classes. Importa reconhecer o neoliberalismo e o seu fetiche, a indústria da cultura, enquanto estruturas ideológicas que determinam a consciência da sociedade. Indústria da cultura e identitarismo são o ópio do povo estendido, pois estabelecem a alienação e a coisificação onde a religião não conseguiu se entranhar. A religião (o braço direito), a indústria da cultura (o seu fetiche) e o identitarismo (o braço esquerdo) formam a Santíssima Trindade do neoliberalismo, sob as bênçãos do capital financeiro.

Por fim, estética, cultura, comunicação e identidade são conceitos compreendidos pela poíesis crítica enquanto neologismos tardios e extrínsecos à natureza da arte. Desse modo, no contexto das artes, amplia-se o rol dos monstros engendrados pelo sonho da razão iluminista.

USP Filarmônica

Fundada em 2011, a USP Filarmônica é formada exclusivamente por estudantes de graduação em seus quadros de bolsistas, cumprindo as atividades de ensino, pesquisa e extensão da universidade pública, atuando também com professores, funcionários, ex-estudantes egressos do Curso de Música da USP em Ribeirão Preto e demais artistas convidados. Rubens Russomanno Ricciardi (maestro principal) e José Gustavo Julião Camargo (maestro assistente) atuam na direção artística, buscando a inovação dos repertórios com reconstrução de memória e exercícios de contemporaneidade, num contraponto entre antigo e novo, clássico e experimental, regional e cosmopolita. Além dos clássicos, a USP Filarmônica se dedica à música brasileira de todos os tempos, em conjunto com as pesquisas do NAP-Cipem do Departamento de Música da FFCLRP-USP. Apresenta-se regularmente em suas sedes em Ribeirão Preto e São Carlos, e todos os concertos e récitas de óperas são gratuitos e abertos ao público.

Por: Assessoria de Imprensa da USP Filarmônica 


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