O antropólogo e Professor Emérito da USP Kabengele Munanga fará uma aula inaugural do semestre no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A aula magna discutirá as relações entre antropologia e militância intelectual negra. O evento acontece no dia 13 de setembro, às 17h30, no Auditório 24 do Prédio de Filosofia e Ciências Sociais, com transmissão ao vivo pelo Canal do PPGAS neste link.
Os estudos de Kabengele Munanga são referência sobre as relações raciais no Brasil. Autor de mais de 150 publicações, além de suas contribuições acadêmicas, a trajetória do professor é marcada pela defesa da construção das políticas afirmativas nas universidades, incluindo um sistema de cotas no Supremo Tribunal Federal.
Munanga iniciou sua carreira acadêmica como professor assistente na Universidade Oficial do Congo, atuou como pesquisador no Museu Real da África Central em Tervuren, na Bélgica. Foi impedido de dar continuidade a seus estudos de pós-graduação após a instalação de uma ditadura em seu país de origem, a República Democrática do Congo. Chegou a São Paulo em julho de 1975 com uma bolsa de dois anos oferecida pela USP para estudantes africanos e cinco anos depois se tornou professor, lecionando até 2012. Atualmente, é professor sênior no Centro de Estudos Africanos da FFLCH.
Um verbete para a posteridade
A vida, a obra e o pulsante ativismo de Kabengele Munanga estão agora registrados em um verbete na Enciclopédia de Antropologia da USP. A Enciclopédia de Antropologia é composta de verbetes, assinados, ordenados alfabeticamente, e que se encontram classificados por autor, obra, conceito, correntes, subcampos e instituições. Sintéticos e apresentados em linguagem acessível, os verbetes visam funcionar como guias de orientação, de modo a permitir, a todo e qualquer interessado, o contato com formulações, obras e autores caros à reflexão antropológica.
Um dos mais recentes verbetes é o de Munanga, que apresenta as relações de seus estudos com outros intelectuais e destaca as origens conflituosas de suas contribuições. De acordo com a publicação, situações de racismo e discriminação experimentadas por Munanga no Brasil marcariam definitivamente sua produção, influenciando sua decisão de estudar questões étnico-raciais no País. O teórico enfrentou discussões como negritude, mestiçagem, racismo e educação, o que gerou publicações como Negritude: usos e sentidos (1998) e Rediscutindo a mestiçagem no Brasil (1999).
Ainda de acordo com a Enciclopédia de Antropologia da USP, apesar de a categoria raça não ter fundamento científico em seu sentido biológico, Munanga defende a utilidade sociológica do termo. Desprovido de seus traços coloniais, o conceito poderia colaborar para a valorização da identidade negra e da negritude como instrumentos de contraposição ao racismo.
“Engajada, social e politicamente, a obra de Munanga situa-se no limite entre a antropologia das populações afro-brasileiras e a educação das relações étnico-raciais, e propõe diálogos fundamentais entre a antropologia, a história e a educação”, ressalta o verbete.