Dispositivo parece promissor na minimização dos danos da Doença de Chagas

O modulador da contratilidade cardíaca já foi testado para outras doenças que afetam o coração, mas não para a Doença de Chagas, o que pode mudar a partir do estudo em desenvolvimento pelo InCor, como diz Martino Martinelli

 16/03/2023 - Publicado há 1 ano
Principal forma de transmissão da doença é através das fezes do inseto barbeiro – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
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A Doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma Cruzi e transmitida por insetos conhecidos como “barbeiros”. Conforme dados do II Conselho Brasileiro em Doença de Chagas, em 2015, a estimativa variava entre 1,9 e 4,6 milhões de pessoas infectadas. A situação, atualmente, não parece ter mudado muito e a doença continua sendo considerada “silenciosa e silenciada”, já que, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, 70% das pessoas desconhecem que estão contaminadas.

O Conselho também analisou que cerca de 30% das pessoas infectadas, na fase crônica, podem desenvolver danos cardíacos. “Toda insuficiência cardíaca, seja ela causada por impacto, por inflamações, pela Doença de Chagas, tem a mesma característica fisiopatológica, porque se trata de um ataque dessas doenças ao músculo cardíaco. Mas ele fica enfraquecido e isso impacta em vários órgãos por meio de modificações hormonais, de modificações de fluxo de sangue que, ao longo do tempo, podem causar a dilatação do coração, já que ele não consegue dar conta do sangue que tem que bombear. Além desse comprometimento, existem alguns no sistema elétrico do coração e outras alterações que não ocorrem na insuficiência cardíaca, causada, por exemplo, pelo infarto”, explica Martino Martinelli, diretor da Unidade Clínica de Estimulação Cardíaca do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

“Uma pesquisa clínica nada mais é do que um estudo bem projetado para investigar uma hipótese”, comenta Martinelli. O modulador da contratilidade cardíaca é um dispositivo que já foi testado para outras doenças que afetam o coração, como doenças coronárias e as que causam infarto, porém, não foi testado para as consequências cardíacas da Doença de Chagas. Esse estudo desenvolvido pelo InCor tem o objetivo de identificar se esse novo aparelho é melhor no tratamento dessa doença que, embora seja caracteristicamente do território brasileiro, afeta milhões de pessoas ao redor do mundo: “Esse estudo trará informações não só para o território brasileiro, a América do Sul e a América Latina, mas, sim, para o mundo todo”, ressalta o especialista.

Dispositivo

Apesar da grande semelhança tecnológica com o marca-passo comum, as funções do modulador são diferentes: “O marcapasso é utilizado para regular os batimentos cardíacos quando estão lentos, ele corrige isso. No caso dessa ferramenta, ao estimular o coração de uma maneira específica com alta energia, ela consegue introduzir um estímulo no momento em que o coração está bombeando. Ele vai se contrair para mandar sangue para o corpo inteiro e, com essa rajada de impulso elétrico, consegue melhorar essa contração ou tentar até normalizar as condições basais. A cada batimento, um pulso elétrico consegue modificar as características das células do coração, ao corrigir o metabolismo interno das células”, comenta Martinelli.

O modulador de contratilidade cardíaca é denominado Optimizer Smart System e produzido por uma empresa norte-americana especializada em ferramentas minimamente invasivas. Para que os resultados sejam visíveis, é preciso escolher o paciente: “É preciso escolher o paciente para fazer esse tipo de procedimento, quer dizer, tem que ser um paciente que tenha uma reserva passível de responder ao tratamento”, esclarece o especialista.

Expectativa

“A gente precisa mostrar que, especificamente para a Doença de Chagas, nós vamos ter grandes resultados. Os resultados iniciais são muito bons, porque nós já temos sete pacientes incluídos”, diz Martinelli. Essa nova terapia já está sendo testada e quatro dos sete pacientes foram selecionados para usar o modulador: “A Anvisa passou a ser conhecida porque todo mundo ficou torcendo para que ela aprovasse as vacinas, e com o modulador é da mesma maneira. Nós vamos demonstrar o valor dessa ferramenta que não vai substituir nada, ela vai agregar, vai somar a mais ferramentas no tratamento dessa doença“, acrescenta Martinelli.


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