Ex-aluno da USP ganha prêmio internacional de música

Fernando Magre conquistou o segundo lugar no Prêmio Otto Mayer-Serra, da Universidade da Califórnia, com artigo sobre música-teatro

 14/03/2023 - Publicado há 1 ano
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Foto: Steve Buissinne/Pixabay

Decidir qual profissão seguir não é uma escolha fácil. Optar por uma única área do conhecimento é um esforço que pode gerar estresse e muitas dúvidas. Esse não é o caso de Fernando Magre, ex-aluno de pós-graduação da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, para quem a carreira musical foi uma escolha natural. Na infância, Magre estudava violão e cantava em corais por incentivo de seu pai. Na hora do vestibular, não houve hesitações quanto a se manter nessa área.

Fernando Magre, que fez mestrado na USP e hoje é professor  da Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames), em Vitória – Foto: Arquivo pessoal

Em 2009, Magre ingressou no curso de Música da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, e hoje, catorze anos mais tarde, conquistou o segundo lugar no Prêmio Otto Mayer-Serra, concedido anualmente pela Universidade da Califórnia, em Riverside, nos Estados Unidos, a trabalhos não publicados sobre música latino-americana ou ibérica. 

O artigo enviado por Magre para a premiação é uma continuidade de sua tese de doutorado em Música, concluída em 2022 na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e de sua dissertação de mestrado em Musicologia, apresentada na ECA em 2017. Intitulado Discursos sobre Música-Teatro na Historiografia da Música Brasileira, o trabalho é uma revisão crítica dos livros História da Música no Brasil (2012), de Vasco Mariz, e Música Contemporânea Brasileira (2008), de José Maria Neves.

A música-teatro é um dos objetos de pesquisa de Magre. Ele explica que o gênero surgiu na década de 1960 e se trata de uma criação experimental que incorpora elementos cênicos na composição musical. “A música-teatro trabalha com uma lógica pós-dramática, ela não trabalha com a lógica da narrativa, como a ópera. Em vez de contar uma história, ela sobrepõe elementos discrepantes e mistura linguagens. A música pode insinuar uma coisa e a cena ser sobre outra”, detalha o ex-aluno da ECA. 

No artigo, Magre demonstra como os dois livros, que são referências para o estudo da música brasileira, não abordam a música-teatro e discute essa questão. “Essa ausência implica a marginalização dessa prática musical no Brasil. Os autores dos livros da nossa historiografia musical talvez não tiveram uma compreensão da prática ou mesmo interesse, e ela ficou eclipsada.”

O interesse pela música-teatro surgiu na vida de Magre durante a graduação na UEL, quando ele conheceu o trabalho do compositor santista Gilberto Mendes (1922-2016), pioneiro do gênero no Brasil. “Não é comum você ver um compositor que mexe com elementos cênicos”, diz Magre. Desde então, a curiosidade por Gilberto Mendes acompanha sua vida acadêmica, tanto que ele se dedicou a estudar a obra do compositor no seu mestrado na ECA, onde elaborou a dissertação A música-teatro de Gilberto Mendes e seus processos composicionais, sob orientação da professora Silvia Berg. 

Fernando Magre e sua orientadora de mestrado na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, professora Silvia Berg – Foto: Debra Pring

“Gilberto Mendes foi professor da ECA, então existe essa relação com a Universidade. Eu entrei para fazer o mestrado na linha de musicologia, prestei com a professora Silvia Berg, que tinha um programa interessante e similaridade com o que eu queria estudar”, conta Magre, que desenvolveu parte de sua pesquisa na Universidade Nova de Lisboa, quando conseguiu uma bolsa da Fapesp para estudar em Portugal por seis meses.

O próprio ato de pesquisar a música-teatro é lembrado por Magre no artigo vencedor. Ele diz que só recentemente, com pesquisas como as dele, o gênero voltou a aparecer e começou a ganhar status equivalente ao da música orquestral. No texto, ele demonstra como, na atualidade, a música-teatro é retomada não só como prática artística, mas também como prática de pesquisa.

Magre conta que foi uma surpresa ganhar o prêmio. “Eu não esperava vencer, porque é um prêmio bastante disputado. Quando eu soube que tinha sido premiado, fiquei muito feliz. É sobretudo um estímulo para minha carreira como pesquisador e um reconhecimento entre outros musicólogos”, relata. O prêmio reforça uma área da musicologia que não tem muito destaque. Segundo Magre, é mais comum ver musicólogos trabalharem com música antiga, anterior ao século 19. A existência de uma premiação na área de música contemporânea, para ele, é importante para reforçar a ideia de que essa música também deve ser tratada com atenção pela musicologia.

Atualmente, Magre é professor da Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames), em Vitória, onde leciona a disciplina de Musicologia Histórica. Ele diz que já trabalhou como docente em vários níveis, desde a educação infantil até a educação para a terceira idade, mas o ensino superior é a área que mais o interessa. Desde a graduação, ele afirma que esteve voltado para as áreas de educação e pesquisa.

Sobre seu gosto musical, Magre conta que gosta de escutar as músicas que estuda, da Antiguidade até canções contemporâneas. “Tenho um gosto musical variado, o tipo que mais escuto é MPB, como Caetano, Gal e Chico, mas gosto de sempre estar com os ouvidos abertos para outros gêneros.”


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