Guaranis e jesuítas: pesquisadores criam comunidade para estudar as missões

Rede internacional de pesquisa quer compreender a herança missionária nos territórios guaraníticos; seminário on-line apresenta grupo e discute a valorização do patrimônio histórico latino-americano

 25/08/2022 - Publicado há 2 anos
As ruínas de São Miguel datam de 1735 e estão localizadas em um dos chamados Sete Povos das Missões – Foto: Sylvia Braga / Reprodução Iphan

 

Seminário na USP apresenta a criação de uma comunidade de pesquisadores envolvidos em investigações sobre as missões jesuíticas nos territórios guaraníticos. A rede internacional de pesquisadores reuniu esforços de interessados no tema para uma compreensão integrada e interdisciplinar deste fenômeno histórico. O evento acontece no dia 8 de setembro, das 14 às 17 horas, e terá transmissão ao vivo pelo site do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. Entre os expositores, estão pesquisadores da PUC-Paraná, do Centro de Documentación de Arquitectura Latino Americana e do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas.  

Buscando superar os regionalismos e reconstruir a história das missões jesuíticas nos territórios guaranis, uma comunidade internacional de pesquisadores vem se constituindo e envolvendo diferentes áreas de estudo. A trajetória de formação desta comunidade será apresentada no seminário, promovido pelo Grupo Tempo, Memória e Pertencimento, do IEA. 

A professora Marina Massimi coordena o Grupo de Pesquisa Tempo, Memória e Pertencimento, organizador do evento – Foto: Clara Borges / IEA-USP

A coordenação do evento e do grupo é da professora Marina Massimi, psicóloga, com ênfase em História da Psicologia e Saberes Psicológicos dos Jesuítas. A docente conta que a criação de uma rede de pesquisa variada sobre as missões nos territórios dos guaranis começou com estudiosos argentinos e posteriormente envolveu paraguaios e brasileiros, em especial do Rio Grande do Sul. Além das tradicionais antropologia, história e geografia, a rede envolve outras áreas, como arquitetura, teologia e saberes indígenas. Para Marina, um fenômeno que durou praticamente dois séculos na história colonial só pode ser compreendido de maneira integral se relacionar diversos ramos do conhecimento. 

“A constituição dessas equipes foi o que permitiu que esse conhecimento fosse veiculado, em aulas e em nossas lives. É muito interessante, porque essa rede criou uma história de trabalho interdisciplinar e seria desejável que mais pesquisadores brasileiros também entrassem”, afirma a professora e informa que pesquisadores do Uruguai também têm se juntado ao grupo. “Mas já há uma história latino-americana importante a que nós podemos nos remeter para inspirar nosso presente”, lembra. 

 

Tempo, memória e pertencimento

Uma das mais notórias manifestações do processo de transculturação entre jesuítas e populações originárias está expressa nos monumentos das missões. Suas ruínas, boa parte localizada em territórios onde viviam os indígenas guaranis, resistem como verdadeiros guardiões da memória dos países onde as missões jesuíticas se estabeleceram. Para além da arquitetura, a própria cultura foi influenciada por essa relação, repleta de contradições. 

+ Mais

Curso on-line aborda as missões jesuíticas em território guarani nos séculos 17 e 18

Barroco Cifrado: a arte indígena nas Missões Jesuíticas

Marina Massimi define as missões jesuíticas em territórios guaranis como assentamentos urbanos, aceitos pela Coroa espanhola, em que as populações atraídas podiam gozar de relativa liberdade dentro de um território totalmente colonizado. “De outra forma, os guaranis – considerados reduzidos – seriam submetidos ao regime de encomenda, dependentes do rei e vassalos diretos da Coroa”. Esta convivência entre duas culturas tão distintas deixou vestígios arquitetônicos, iconográficos e documentais, importantes fontes de pesquisa científica. 

A coordenadora do Grupo de Pesquisa Tempo, Memória e Pertencimento defende a importância de fazer chegar ao conhecimento da população brasileira este período da história. Para isso, segundo Marina, é urgente “uma política de preservação da memória histórico-cultural do País e dos grupos de tradição oral, como as nações indígenas”.

Partindo de investigações regionais, o grupo de pesquisa quer seguir os rastros do passado para compreender sua incidência no presente da vida dos povos da América Latina. As atividades do grupo e de parceiros estão disponíveis no canal do IEA no Youtube. Entre os temas discutidos nos vídeos, estão a educação dos colégios jesuíticos, as representações indígenas na arte das províncias e até a gastronomia na cultura missionária.

 

Integração das Investigações sobre as Missões Jesuíticas nos Territórios Guaraníticos

Evento público e gratuito – sem inscrição prévia
Dia 8 de setembro, das 14 às 17 horas
Transmissão em: http://www.iea.usp.br/aovivo


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.