“Catástrofe humanitária se agrava na Ucrânia”

É o que afirma o colunista Pedro Dallari, lembrando que mais de 10 milhões de ucranianos já foram obrigados a abandonar suas casas

 23/03/2022 - Publicado há 2 anos
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A invasão da Ucrânia pelo exército russo está completando um mês – e a guerra parece bem longe de acabar. E a catástrofe humanitária, segundo o colunista Pedro Dallari, só se agrava naquele país. “A invasão russa prossegue, gerando um impacto terrível sobre a população ucraniana e também sobre os russos que são afetados pela guerra. Na Ucrânia, já deixaram suas casas – segundo levantamento do Alto Comissariado das Nações Unidas Para Refugiados – 10 milhões de pessoas: 3,5 milhões que são refugiados e já se encontram em outros países, e 6,5 milhões de deslocados internos, ou seja, pessoas que deixaram suas casas para se deslocarem dentro do próprio território ucraniano. Esses 10 milhões de ucranianos correspondem a 25% da população do país. É como se, no Brasil e em menos de um mês, por causa de um conflito, 60 milhões de pessoas tivessem que deixar as suas casas, indo para o exterior ou indo para outros locais no próprio país”, analisa Dallari. “O número de mortos e feridos também vai aumentando, e esse levantamento é feito por uma outra agência da ONU, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Oficialmente, já se contabilizam mais de mil mortos e mais de 1,5 mil feridos – e entre esses mortos e feridos, 200 crianças. Mas a própria agência da ONU crê que esse número seja muito maior, dada a dificuldade de fazer a contabilização em um conflito de extrema violência”, afirma o colunista.

Mas, para além da guerra – por si só terrível –, há ainda um outro grande risco, como avalia Pedro Dallari. “O risco diante dessa catástrofe humanitária é a ‘normalização’ da guerra – com a catástrofe sendo relegada ao esquecimento, assim como ocorreu com a guerra na Síria”, acredita o professor. “Eventos assim, por mais dramáticos que sejam, deixam de ter importância diante de outros fatos que vão surgindo para prender a atenção das pessoas. No Brasil, a crise econômica e as eleições tendem a chamar mais a atenção. Dentro da própria política internacional há também o risco de que a catástrofe humanitária seja relegada a um segundo plano”, afirma Dallari. “Rússia, China e Arábia Saudita, por exemplo, não querem que o tema da guerra seja discutido na reunião do grupo dos 20 principais países em termos econômicos do mundo, que se realizará no final do ano, na Indonésia. Esses países alegam que o G20 se destina à discussão de assuntos econômicos e não de conflitos armados ou assuntos de segurança. O que ocorre é que, na verdade, esses países não são emergentes: são violadores contumazes dos direitos humanos e, por isso, não querem discutir a guerra”, explica o colunista. “Na verdade, é preciso manter a atenção para o assunto e combater esse crime perpetrado pelo governo russo. O que está em questão na Ucrânia são os direitos humanos, é a cidadania no mundo globalizado, e toda forma de protesto é válida”, conclui o colunista.


Globalização e Cidadania
A coluna Globalização e Cidadania, com o professor Pedro Dallari, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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