Novo Marco Legal promete agilizar a expansão da malha ferroviária brasileira

Claudio Barbieri comenta os benefícios do investimento privado, o qual pode colaborar para suprir a insuficiência de linhas férreas no Brasil e facilitar a interligação no País

 21/02/2022 - Publicado há 2 anos
O desenvolvimento da malha ferroviária no Brasil, para alguns, significa uma ameaça ao tráfego de caminhões – Foto: Roberto Sarti/Panoramio
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O projeto de um novo Marco Legal das Ferrovias, sancionado em dezembro de 2021, promete agilizar e simplificar a implantação de novos trechos do modal ferroviário pela iniciativa privada. Até o momento, o governo já recebeu 79 pedidos de autorização para construção, que totalizam R$ 240,8 bilhões de potencial investimento. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Claudio Barbieri, do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica (Poli) da USP, expõe as vantagens da decisão para o comércio brasileiro.

Atualmente, a malha ferroviária brasileira possui cerca de 31 mil quilômetros, pouco mais do que a estrutura já existente no País há um século atrás. “A malha efetivamente utilizada é ainda menor do que isso”, conta Barbieri, que também aproveita para estabelecer uma comparação com os Estados Unidos – país com extensão territorial similar à brasileira. A ferrovia da nação norte-americana possui dimensões de quase 250 mil quilômetros, número expressivamente maior do que aquele que encontramos em território nacional. 

Para o professor, isso ocorre por que o transporte ferroviário como atividade em si não é tão lucrativo. “A empresa privada não ganha dinheiro com a ferrovia, mas se beneficia por ser mais competitiva na comercialização e exportação”, conta. Logo, o lucro surge como consequência da redução dos gastos com transporte e possível aumento na produção proporcionados pelas ferrovias.

Interferência no transporte rodoviário 

O desenvolvimento da malha ferroviária no Brasil, para alguns, significa uma ameaça ao tráfego de caminhões. Barbieri comenta a situação, dizendo que o transporte rodoviário “vai continuar existindo, mas de uma maneira diferente”. O professor continua: “Nem sempre a ferrovia liga o ponto de origem ao exato ponto de destino da carga. Você sempre precisa ligar a ferrovia com modos de transporte rodoviário. Se nós reduzirmos a quantidade de caminhões viajando distâncias muito grandes, o custo desse transporte diminui, os produtos tornam-se mais competitivos e talvez consiga-se até aumentar a produção”, diz. 

Claudio Barbieri da Cunha – Foto: Reprodução

A ferrovia, de maneira geral, é um meio de transporte lento e pouco indicado para o deslocamento de cargas urgentes. “Por exemplo, para os produtos que compramos na internet e esperamos receber no dia seguinte ou depois, a ferrovia não é tão eficiente”, ilustra Barbieri. O engenheiro compartilha que a malha ferroviária é normalmente utilizada para transportar cargas de grande volume, de uma ou poucas origens para um ou poucos destinos e que sejam fáceis de movimentar, carregar e descarregar dos vagões. 

A redução do uso de caminhões para o transporte de carga também contribui para a diminuição das emissões de carbono, o que o professor aponta como benefício da técnica para o meio ambiente. O investimento privado, por sua vez, pode colaborar para tal ao suprir a insuficiência de linhas férreas no Brasil e facilitar a interligação no País. “Talvez essa não seja a única solução, talvez o governo ainda precise fazer investimentos para induzir uma demanda em áreas que ainda não têm esse potencial pronto, mas vejo tudo isso como algo positivo”, finaliza Barbieri.


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