O leilão do 5G, realizado em novembro do ano passado, foi o maior evento a disponibilizar faixas de frequência do País, arrecadando R$ 46,7 bilhões entre as dez operadoras participantes. Foram vendidas as faixas de frequência 700 MHz e 2,3 GHz, para melhorar a cobertura do 4G e, posteriormente, distribuir o 5G, e as faixas 3,5 GHz e 26 GHz, que irão distribuir o 5G “puro”. O 5G, no entanto, só deve chegar a toda a população em 2029 e aqueles sem acesso ao 3G e 4G ainda terão que esperar alguns anos pela internet.
As estimativas são da própria Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), analisadas pelos especialistas em sistemas da informação Eduardo Martins Morgado, professor da Unesp de Bauru, e Kalinka Castelo Branco, professora do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP de São Carlos. Para os professores, o fato de todos terem acesso ao 5G é considerado um marco de inclusão social no País, mas avaliam que até lá serão necessárias a implementação de políticas públicas, instalar novas antenas, ampliar as áreas de cobertura e modernizar legislações de antenas.
Ouça entrevista dos professores Eduardo Martins Morgado, da Unesp de Bauru, e Kalinka Castelo Branco, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação de São Carlos da USP, sobre a revolução do 5G no Brasil.
Grandes centros urbanos x locais sem internet
Colocar o 5G em funcionamento no Brasil não é um processo rápido. O acesso a todo o território nacional exige grande quantidade de antenas para distribuir o sinal, já que as ondas de frequência do 5G são menores que as do 4G. E o investimento na instalação de antenas será grande, prevê a professora Kalinka, sendo necessário “quintuplicar o número de antenas” e transpor “um obstáculo: as terras destinadas à agricultura”. É que, para que não falte rede nas regiões rurais, será “preciso que se negocie com agricultores porções de terra para instalar antenas”, antecipa.
Ouça entrevista dos professores Eduardo Martins Morgado, da Unesp de Bauru, e Kalinka Castelo Branco, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação de São Carlos da USP sobre a cobertura da nova tecnologia.
Porém, informa o professor Morgado, a questão rural não será a prioridade inicial das operadoras que, primeiramente, se dedicarão aos grandes centros urbanos, por conta da concentração de consumidores, e só depois irão expandir a nova tecnologia para áreas mais afastadas, como vilas, assentamentos, reservas indígenas e áreas rurais.
Com a prioridade das grandes regiões urbanas, as operadoras devem “começar por conectar antenas adaptadas nas torres, instalar novas antenas nas regiões metropolitanas e preparar o consumidor para os novos serviços que serão oferecidos quando o 5G chegar nas grandes cidades, em julho de 2022”, adianta Morgado. Já as 8.930 localidades brasileiras com pouco ou nenhum acesso “ao 3G ou 4G devem ficar ainda mais alguns anos sem serem contempladas pelas empresas de telecomunicação”, avalia o professor.
De qualquer forma, a modernização das legislações sobre as antenas e programas, como o Conecta SP, anunciado pelo governo paulista em novembro de 2021, pode contribuir para uma melhor cobertura e acelerar a implementação da tecnologia 5G no País, segundo Morgado.
Ouça entrevista dos professores Eduardo Martins Morgado, da Unesp de Bauru, e Kalinka Castelo Branco, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação de São Carlos da USP, sobre a implementação das antenas adaptadas ao 5G.
Celulares mais baratos e com 4G melhorado
A relação do 5G com os celulares é permitir que os usuários baixem e enviem uma maior quantidade de dados em pouco tempo. Mas a preocupação do aparelho estar pronto para a novidade, de acordo com Morgado e Kalinka, pode ser adiada por hora. Os professores dizem que é preciso aguardar até que as mudanças cheguem. “Os celulares mais recentes já vêm adaptados ao 5G, mas isso não vai fazer diferença nenhuma na performance do celular atualmente. Isso porque ainda só temos o 4G disponível”, comenta Kalinka.
O professor Morgado tranquiliza ainda mais os ansiosos por tecnologia, adiantando que os serviços de 4G não devem ficar sem suporte nem desaparecer. Até que o 5G esteja disponível, assegura o professor, o 4G deve ser ainda mais melhorado e acrescenta outra boa notícia: “Os próximos celulares a serem lançados serão mais baratos. Isso se deve ao fato de que os dispositivos terão menor capacidade de processamento interno, pois a maior parte do processamento poderá ser feita na central da operadoras”.
Ouça entrevista dos professores Eduardo Martins Morgado, da Unesp de Bauru, e Kalinka Castelo Branco, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação de São Carlos da USP, sobre o processo de mudança do 4G para o 5G nos dispositivos celulares.
Revolução do 5G como marco de inclusão social
De acordo com os especialistas ouvidos, o 5G tem o potencial de mudar a vida das pessoas em muitos aspectos. Garantem que não se trata de apenas conectar ainda mais as pessoas, mas de trazer novos recursos e abrir muitas oportunidades. Segundo a professora Kalinka, o 5G deve possibilitar a construção de cidades inteligentes, fazendo com que veículos, sistemas de trânsito, sistemas de vigilância e outros se tornem ainda mais automatizados. “Áreas como a da educação, comunicação e saúde vão se beneficiar muito das novas tecnologias, integrando-se ainda mais ao mundo digital”, acrescenta. Morgado lembra que os serviços que já dependiam do uso frequente de dados vão se desenvolver ainda mais, fazendo da conectividade gerada pelo 5G um marco de inclusão no aspecto social.
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