Livro traz a múltipla carreira do arquiteto Oswaldo Corrêa Gonçalves

Obra destaca as realizações de um dos fundadores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP

 31/01/2022 - Publicado há 2 anos
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O livro recém-lançado pelas Edições Sesc – Arte de Rebeca Alencar com imagens de Arquivo e Editora Sesc

 

Nascido em Santos (SP), o arquiteto e urbanista Oswaldo Corrêa Gonçalves (1917-2005) teve sua trajetória profissional marcada tanto por obras públicas – que incluem residências, edificações esportivas, escolas e instituições – como por sua contribuição à vida acadêmica, participando ativamente da criação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. Outro destaque foi seu compromisso com a ampliação do campo de trabalho dos arquitetos, a partir de seu envolvimento em bienais de arte e de arquitetura, e sua luta pela formação do curso de Arquitetura no Estado de São Paulo – já que cursou arquitetura quando esta ainda estava atrelada ao curso de engenharia, formando-se engenheiro-arquiteto, em 1941, pela Escola Politécnica da USP. Além disso, foi um dos fundadores do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) em São Paulo, logo após o término da Segunda Guerra Mundial.

O arquiteto Oswaldo Corrêa Gonçalves (1917-2005) – Foto: Arquivo

Sua múltipla trajetória é descrita no livro recém-lançado Oswaldo Corrêa Gonçalves – Arquiteto Cidadão (Edições Sesc), de autoria dos arquitetos Gino Caldatto Barbosa e Ruy Eduardo Debs Franco. “Expoente de uma geração de profissionais alinhados pelo ideal moderno de pensar o edifício e a cidade como instrumentos transformadores da realidade coletiva, Oswaldo Corrêa Gonçalves pontuou sua carreira por caminhos desiguais”, escrevem os autores do livro. Segundo eles, a obra apresenta distintas leituras que abordam sua produção para além do êxito profissional, versando sobre os fazeres do arquiteto e do cidadão, ampliando assim o entendimento acerca de sua complexa personalidade.

Para o arquiteto e urbanista Júlio Roberto Katinsky, professor da FAU, que assina o prefácio da obra, Corrêa Gonçalves foi fundamental para a consolidação e desenvolvimento da profissão, firmando a arquitetura como necessária à civilização e deixando de ser uma atividade de poucos para se tornar de muitas pessoas dedicadas ao convívio de populações. O professor lembra da sua defesa do trabalho em equipe: “A postura de trabalhar em equipe e em parceria com outros arquitetos marcou-o para sempre, o que me parece a grande contribuição da Politécnica (de São Paulo) para a constituição do exercício e do ensino da arquitetura no Brasil”. Como observa o arquiteto e também professor da USP Hugo Segawa, na orelha do livro, Oswaldo Corrêa Gonçalves “aos 40 anos já ostentava um invejável acervo de realizações”.

Participação na USP

O interesse de Corrêa Gonçalves pelo ensino da arquitetura ganha destaque nos seus mais de 60 anos de atividade. Seu envolvimento teve início no período em que era recém-formado e, no decorrer da década de 1940, juntou-se aos arquitetos João Batista Vilanova Artigas, Eduardo Kneese de Mello, Ícaro de Castro Mello e Leo Ribeiro de Moraes, entre outros colegas do departamento paulista do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), nas discussões para a criação da FAU, escola que posteriormente se tornaria referência para diversos cursos de arquitetura, incluindo o de Santos, como contam os autores do livro. Segundo eles, a reivindicação mantinha-se intimamente vinculada à origem do instituto, sendo a luta pela autonomia na formação profissional articulada como uma das principais bandeiras da instituição. Como justifica o próprio Corrêa Gonçalves: “Queríamos o ensino da arquitetura desligado do ensino da engenharia e das belas artes (…). Nós achávamos que a engenharia era tecnicista e a arquitetura mais humanista, tendo a ver com as ciências humanas. E daí a necessidade de escolas diferentes para engenheiros e arquitetos”. Foi com esse pensamento que lutou pela conquista da autonomia de ensino aos arquitetos, buscando sua estruturação e aprimoramento.

Seus objetivos se concretizaram com o surgimento, em 1948, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP – concomitante à extinção do curso de engenheiros-arquitetos da Escola Politécnica –, o que lhe deu experiência acadêmica importante, apesar de circunscrita num breve período, como informam os autores. “Entre os anos de 1955 e 1956, Oswaldo Corrêa Gonçalves fora professor assistente de Ícaro de Castro Mello na disciplina de grandes composições – equivalente curricular a Projeto III – para as turmas do terceiro ano”, contam. E complementam: “A convivência direta com a prática do ensino, somada aos esforços para a criação da FAU, tempos depois se mostraria algo profícuo no debate para a criação da faculdade de arquitetura em Santos.”

Fachada da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP – Foto: Divulgação

 

“Ao tempo em que Oswaldo Corrêa Gonçalves participava com entusiasmo das reuniões da fundação do IAB ou da criação da FAU, naturalmente eu era um ginasiano”, escreve Júlio Katinsky. “Posso dizer, entretanto, que Oswaldo Corrêa Gonçalves foi uma pessoa que contribuiu para a consolidação de uma atividade impulsionada inicialmente por um pequeno grupo de arquitetos modernos cariocas, e depois brasileiros, desenvolvendo-se fortemente uma atividade tradicional para uma atividade interdisciplinar, com um inequívoco compromisso com a cidade que se quer e seu futuro comum”, diz Katinsky, que realizou diversos projetos ao lado de Corrêa Gonçalves em uma relação que começou durante as reuniões oficiais do IAB, “pois eram próprias do arquiteto uma grande afabilidade e uma atenção respeitosa e gentil para com todas as pessoas”. Katinsky ainda finaliza: “Concluo este retrato apenas esboçado lembrando que a maior qualidade do arquiteto não se fixa na sua condição de destacado profissional nem em sua atuação como cidadão, mas em sua lealdade para com as pessoas com as quais conviveu e com os ideais com elas partilhados”.

E o próprio Corrêa Gonçalves deixou uma mensagem aos mais jovens quando, em 2002, recebeu homenagem do IAB, por ocasião dos seus 60 anos de vida: “Confiem e lutem. Aprendam com os que já fizeram, mas inovem, caminhando para frente, pensando na possibilidade de uma sociedade mais justa e tranquila”.

Oswaldo Corrêa Gonçalves – Arquiteto Cidadão, de Gino Caldatto Barbosa e Ruy Eduardo Debs Franco, Edições Sesc, 336 páginas, R$ 98,00.

 


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