Planos de flexibilização das medidas de segurança sanitária para reabertura de comércios e serviços, que não levem em consideração a variante Delta, colocam em risco os avanços da vacinação no Brasil. O País possui cerca de 35% da sua população totalmente imunizada, após sete meses do início da campanha de vacinação. Mesmo tendo um dos maiores programas de vacinação do mundo, o País acabou ficando para trás no números de vacinados, por motivos mercadológicos e políticos.
No Estado de São Paulo, a Delta é a cepa dominante da covid-19 desde meados de agosto. Especialistas da área de epidemiologia alertam para o risco de uma nova explosão de casos causada pelas variantes. No entanto, muitos Estados, como São Paulo, seguem com os planos de retorno ao normal ainda para este ano.
“Não é hora de festejar, não é hora de abrir”, afirma o professor Gonzalo Vecina Neto, do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. De acordo com o professor, apesar da estabilidade de casos, o momento para flexibilizar as medidas de segurança não é o ideal, devido aos riscos que a variante Delta traz.
Estudos apontam que a variante diminui a eficácia das vacinas, isto é, a capacidade do imunizante de impedir o contágio pelo sars-cov-2 é reduzida. Essa “brecha” na imunidade permite que pessoas contaminadas e assintomáticas sejam vetor do vírus sem saberem. É importante ressaltar que a vacinação continua sendo uma das melhores formas de prevenir a doença, junto com o uso de máscaras e higienização das mãos.
Para Vecina, o falso senso de segurança que veio com a campanha de vacinação contra a covid-19 cria um cenário de apreensão e propensão para que novas variantes surjam. Para que um plano de flexibilização seja viável, é necessário que o número de pessoas totalmente imunizadas seja maior, cerca de 80% da população. “O problema é que nós não tínhamos e ainda não temos vacinas suficientes”, comenta o professor sobre os problemas que impedem a aceleração da vacinação no Brasil.
Segundo ele, não há um avanço ou aceleração na vacinação, considerando a estrutura para aplicação de vacinas que o País possui. Todos os Estados estão recebendo e aplicando doses de acordo com a disponibilidade dos imunizantes e do tamanho da sua população. “Não tem nenhum Estado mais adiantado. Todos os Estados receberam uma quantidade equivalente de doses do Ministério da Saúde”, ressalta Vecina.
Flexibilização e reabertura
Em agosto deste ano, o governador João Doria anunciou o fim das restrições de horário e limite de ocupação para comércio e serviços que haviam sido colocados como medidas de segurança sanitária no começo da pandemia. O plano de flexibilização conclui posicionamento do governo de São Paulo, junto com a dissolução do Centro de Contingência do Coronavírus, comitê de especialistas criado para avaliar a situação epidemiológica de São Paulo.
A mudança de posição do governador demonstra uma mudança em sua agenda. Segundo Vecina, as medidas de flexibilização procuram agradar setores da sociedade ligadas ao comércio, que se beneficiaram com a retomada das atividades. A mudança na equipe de comunicação do governador, que agora possui um número reduzido de profissionais na área de saúde pública, é um indicativo dessa mudança de foco do governo do Estado. Os especialistas do Centro de Contingência recomendaram que o processo de reabertura começasse a ser realizado somente quando 80% da população de São Paulo estivesse totalmente imunizada.
Com a chegada da variante Delta, muitos países que possuem um grande número de vacinados e que haviam relaxado as medidas de proteção, vêm retrocedendo na flexibilização para evitar o avanço da nova cepa. Vecina ilustra essa situação com o caso de Israel que, mesmo com cerca de 80% da população imunizada, considera novas medidas para impedir o avanço da variante, como o lockdown e a aplicação da terceira dose da vacina.
Vecina Neto vê o cenário de reabertura como negativo. Ele avalia que o fim de todas as restrições em novembro é algo perigoso e acredita que medidas de isolamento social terão de ser adotadas até o final do ano. Segundo ele, só a aceleração da vacinação permitiria a adoção de medidas de relaxamento, no entanto, a constante falta de vacinas no mercado faz com que a previsão de imunização da população seja para o primeiro trimestre de 2022.
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