Número de mortes de crianças por covid-19 acende alerta

Maria Célia Cervi comenta que o avanço da vacinação dos adultos, aliado a uma boa alimentação e cuidados básicos de saúde, pode frear mortalidade infantil pela doença

 03/08/2021 - Publicado há 3 anos
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Fotomontagem por Rebeca Alencar com imagens de Pixabay e Freepik

 

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Desde março de 2020, a pandemia da covid-19 vem assombrando e surpreendendo a população mundial. O que no início colocou maiores riscos aos idosos e portadores de comorbidades, agora mostra-se perigoso também para as crianças. Até maio deste ano, cerca de mil crianças, de 0 a 9 anos de idade, morreram vítimas da doença, segundo um levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, mas acredita-se que o número possa ser maior, já que muitas crianças sequer são testadas e não há números precisos sobre essas mortes após este período.

Para a professora Maria Célia Cervi, do Departamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, os dados representam uma mudança geral da mortalidade na sociedade. A pandemia de covid-19 diminuiu a expectativa de vida no Brasil em cerca de dois anos e, “realmente, está havendo um impacto na mortalidade de forma geral”, afirma a professora.

Crianças como grupo prioritário da doença

Foto: Xavier Donat

O levantamento assusta e abre portas para discussões sobre o motivo de crianças perderem suas vidas para a doença de forma tão precoce. Segundo a professora, as crianças deveriam ser consideradas prioridade diante da doença, porque ainda estão desenvolvendo seu sistema de defesa.

Para que o sistema imunológico da criança se desenvolva e evite problemas mais graves de saúde uma boa alimentação é essencial, ressalta Maria Célia, afirmando que é preciso também garantir condições básicas de saúde e serviços, especialmente em lugares mais pobres do País.

A professora destaca que os idosos, considerados grupo de risco da covid-19, têm condições semelhantes às crianças, o que explicaria tratar este grupo como prioritário durante a pandemia. É que, segundo Maria Célia, nos dois casos os indivíduos apresentam imunidades mais baixas e, muitas vezes, problemas nutricionais. “Os dois extremos da vida são mais suscetíveis também de evoluírem para uma forma mais grave e com maior letalidade.”

As crianças ainda têm o agravante de não serem testadas para o novo coronavírus, seja por falta de estrutura ou pela técnica usada na coleta de material para análise. “O nariz da criança é pequeno e isso dificulta muito”, explica. Nestes casos, apenas a sorologia e exames de sangue podem ajudar.

Quadro pode ser revertido

A vacinação em massa, hoje, é a única solução para diminuir a proliferação do novo coronavírus e, no Brasil, alguns Estados já anunciam vacinas para jovens a partir de 12 anos de idade, como já ocorre em algumas partes do mundo. Mas a imunização de crianças, como explica a professora, é mais complexa, já que faltam estudos grandes quanto à vacinação desta faixa etária. O mais seguro, acredita a professora, é o “avanço da imunização dos adultos” para proteger as crianças.

Além da imunização dos adultos, ainda é possível reverter o quadro da mortalidade infantil pela covid-19, com “planejamento de segurança alimentar e acesso aos serviços de saúde” e, também, separando a saúde de questões econômicas e políticas, por exemplo, já que essas discussões “trouxeram um vazio no cuidado preventivo da saúde”.


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